Anúncio do futuro secretário de Meio Ambiente de Casagrande é repudiado por ONG socioambiental capixaba
Mesmo sem histórico relevante de atuação na área ambiental e sendo defensor convicto da exploração do sal-gema no norte do Estado, o deputado Felipe Rigoni (União) será o próximo gestor da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama), no terceiro mandato de Renato Casagrande (PSB), que se inicia neste domingo (1).
A combinação dessas duas características transformou o anúncio feito pelo governador nesta quarta-feira (28) em motivo de indignação. “Nos preocupa profundamente essa nomeação. Ao escolhê-lo, Casagrande também demonstra total desrespeito à natureza e ao meio ambiente, porque Rigoni tem sido praticamente um advogado de defesa do sal-gema”, alerta o coordenador da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional no Espírito Santo (Fase-ES), Marcelo Calazans.
A entidade é testemunha de um dos episódios em que o deputado se mostrou fortemente favorável à mineração do sal fóssil na região de Conceição da Barra, norte do Estado, em reunião realizada em Vitória. “Falamos da necessidade de ouvir as comunidades que serão afetadas e dos problemas em Maceió, mas ele manteve aquele ‘papo furado’ de que ‘no Espírito Santo vai ser diferente, vai ter mais tecnologia'”, relata.
Para o coordenador da Fase-ES, o fato é um desastre ambiental anunciado. “Onde quer que se explore sal-gema é um desastre. Não existe sequer um exemplo de local onde não há impactos enormes contra a água e as comunidades. No Espírito Santo, haverá grande impacto contra quilombolas, sem terra e camponeses, será também um desastre”, alerta.
Tragédia em Maceió
O caso da capital de Alagoas, no Nordeste brasileiro, é considerado o maior crime socioambiental em curso no mundo. Em Maceió, bairros inteiros estão virando áreas fantasmas devido ao afundamento do solo e remoção de pelo menos 55 mil famílias, resultado de 40 anos de exploração de sal-gema pela gigante Braskem.
A tragédia foi citada em audiência pública realizada em setembro de 2021 sobre a exploração do sal-gema no Estado e está documentada no documentário A Braskem passou por aqui: a catástrofe de Maceió, de Carlos Pronzat, lançado em agosto do mesmo ano.
Coincidentemente ou não, quatro décadas é também o período em que a jazida do Espírito Santo, a maior da América Latina, é conhecida pelo mercado, mas somente em setembro do ano passado foram leiloadas pela Agência Nacional de Mineração (ANM). Na ocasião, onze áreas foram arrematadas por quatro empresas: Dana Importação e Exportação Ltda, José Augusto Castelo Branco, Pedras do Brasil Comércio Importação e Exportação Ltda e Unipar Carbocloro S.A.
‘Tema mais importante do século’
Em suas redes sociais, Rigoni declarou sua satisfação com a indicação. “É com muita responsabilidade que aceitei o desafio de ser o secretário de Meio Ambiente do Espírito Santo. O tema é, sem dúvidas, o mais importante do Século XXI. A utilização de dados na elaboração de políticas públicas será uma das principais ferramentas para avançarmos”.
Já o governador salientou que, com o novo secretário, “trabalharemos para que o ES seja, cada vez mais, protagonista em políticas públicas de sustentabilidade e continue modernizando sua legislação ambiental”. E disse que o atual secretário, Fabricio Machado (PV), “irá colaborar na organização do Consórcio Brasil Verde, entidade que estou liderando e tem como objetivo mobilizar os estados brasileiros para elaboração de políticas de enfrentamento às mudanças climáticas”.
Greenwashing
Para Marcelo Calazans, considerando a postura de Rigoni em relação ao sal-gema e a falta de qualquer atuação positiva pretérita de relevo na área ambiental, a gestão do futuro secretário tende a ser deletéria em praticamente toda a agenda socioambiental capixaba. “Se como deputado ele já era terrível, agora com o aparelho de Estado nas mãos, pode colocá-lo a favor das empresas. Para toda a luta ambiental, dos povos tradicionais, será um desastre ambiental. Certamente será um péssimo secretário”, lamenta.
A triste notícia, no entanto, observa o ambientalista, é coerente com a atuação socioambiental de Casagrande nos seus dois primeiros governos. “Ele sempre foi porta-voz das empresas de mineração, petróleo e eucalipto. Na questão climática, defende os interesses das grandes corporações. Ele fala em carbono neutro na COP [Conferência das Nações Unidas sobre Clima], mas é greenwashing”, critica.
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