Acompanhando o Diário Oficial do Espírito Santo, vemos constantemente os comunicados sobre pedidos e as aprovações, pelo Instituo de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), dos plantios de eucalipto em todo o Estado, mas, ainda, preferencialmente na região mais setentrional.
Os mais recentes registros, nos últimos dias, dão conta de três pedidos de Licença Prévia (LP-S) e Licença de Operação (LO-S) para plantios de 172,41 hectares na Fazenda Santa Rosa, de 126,95 hectares na Fazenda Itaúnas e de 127,55 hectares na Fazenda Cana Brava X. Todos feitos pela Aracruz Celulose (Fibria) e no município de Pinheiros. Total: mais 426,91 hectares de uma monocultura que está avançando sobre outras duas, as de pastagens e de cana de açúcar, numa região já tão castigada pela escassez de água.
“Aqui em Pinheiros, o problema de eucalipto e cana de açúcar é antigo, principalmente na região Centro-leste”, testemunha Aloisio Souza da Silva, da coordenação local do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
Baixo IDH
É nesse limite com Conceição da Barra que está se concentrando a expansão do deserto verde em Pinheiros. O município litorâneo é um dos que mais sofrem com a monocultura de eucaliptos e é também um dos que mais viram seus córregos secarem e que detém um dos mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado.
Além da Aracruz Celulose (Fibria), também a Suzano é outra protagonista da transformação das terras agricultáveis da região em desertos verdes, que aniquilam a biodiversidade e os recursos hídricos, expulsam a mão de obra rural e exportam os lucros para as sedes das multinacionais.
Mais recentemente, uma nova empresa, Placas do Brasil, veio se somar à “cadeia produtiva” do eucalipto, por meio da produção de MDF. Há pouco mais de um ano, começou a trabalhar junto aos produtores rurais, para quem plantem o eucalipto que servirá de matéria-prima em sua planta, a ser instalada às margens da BR-101, próximo a Pedro Canário.
No Estudo de Impacto Ambiental divulgado há pouco mais de um ano, Aloisio conta que a empresa anunciava sua intenção de ocupar 30 mil hectares com plantações de eucalipto, num período de dez anos e num raio de até 50 km a partir da planta.
“A leitura que nós fazemos é que as propriedades a partir de 50 hectares do município vão se transformar, praticamente todas, em produtoras de eucalipto, nos próximos anos”, revela o líder camponês. Nesse primeiro momento, avançando sobre pastagens e canaviais abandonados, mas talvez afetem também cafezais num segundo momento.
“Monopólio pelo uso e não pela propriedade”
Nessa fase atual da expansão, as empresas de celulose e papel não mais compram as terras que desertificarão, mas estabelecem contratos com os proprietários, em sistema semelhante a arrendamento, e realizam todo o serviço. “É o monopólio da terra pelo uso, e não propriedade”, observa Aloisio.
Para o proprietário de terra, parece um ótimo negócio, pois o eucalipto tem menor risco fitossanitário e aguenta até três meses sem irrigação, já que as raízes profundas buscam água com mais eficiência, o que, por outro lado, gera toda a tragédia hídrica tão conhecida na região. “Aqui há um dilema: não temos estudos científicos, mas as comprovações empíricas dão conta de que o eucalipto seca muito mais do que o pasto ou a cana”, revela o coordenador do MPA.
O proprietário também não tem mais que contratar mão de obra, pois o serviço é todo feito pela indústria papeleira que, por sua vez, não tem que arriscar capital para adquirir terras. O discurso dos governantes defende que o eucalipto traz desenvolvimento e progresso, mas a realidade mostra exatamente o contrário: baixíssima geração de emprego e de má qualidade, agravamento do estresse hídrico, déficit de produção de alimento para o mercado local e fuga de capital para o exterior.
“Está na hora de um debate sobre o destino das terras agricultáveis do Espírito Santo”, provoca Aloisio. “Qual o custo de se recuperar uma área ocupada por monocultura de eucalipto? Onde estão os estudos científicos sobre o real impacto sobre os recursos hídricos e o solo?”, questiona. “Não é um debate puramente técnico, ambiental, precisa considerar a questão do emprego, da produção de alimentos saudáveis para a mesa do capixaba, da geração de renda e tributos para o Estado”, pontua.