Os desmatadores do Espírito Santo já não encontram mais vegetação nativa para destruir. No ano passado, foram desmatados no Espírito Santo 20 hectares, o equivalente a 20 campos de futebol (em 2012-2013, 14 hectares). O governo do Estado comemora. Entretanto, o resultado não é em função da fiscalização ou outras ações do Estado, e sim pela ausência de mata atlântica para que continue a degradação.
E mais: o governo Paulo Hartung tem débito antigo ao descumprir a Constituição Estadual, que determina a recuperação de 1% da área do terreno com mata nativa, até formar a reserva legal, que deve ter 20% da área total da propriedade.
O Espírito Santo tem ficado atrás no ranking nacional, todos os anos, porque ocorre o “efeito formiga”. Como não há mais o que desmatar, os números passam a falsa impressão de que está próximo do desmatamento zero.
O Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica do período 2013-2014 foi produzido pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) de 2015. Foi divulgado em
São Paulo na quarta-feira (27), Dia Nacional da Mata Atlântica.
No Espírito Santo, vastas áreas não foram incluídas no estudo, em função de nuvens. A área avaliada em 2014 foi de apenas 73% do território, como registram os analistas. A área excluída pode, em tese, reduzir a área ainda coberta pela mata nativa. O Estado tem 4.607.118 hectares, dos quais restam apenas 482.592 hectares, ou 10,5% da área original, a quase totalidade em unidades de conservação.
O estudo aponta desmatamento de 18.267 hectares (ha), ou 183 Km², de remanescentes florestais nos 17 Estados da Mata Atlântica no período de 2013 a 2014, o que equivale a 18 mil campos de futebol. Houve uma queda de 24% em relação ao período anterior (2012-2013), que registrou 23.948 hectares.
“Os 12,5% da Mata Atlântica que restam de pé, com suas paisagens e beleza cênica, são um patrimônio natural com potencial turístico invejável. Prestam ainda diversos serviços ambientais, como a conservação das águas que abastecem as nossas cidades e a estabilidade dos solos, tão essenciais à agropecuária. Preservar o que restou e restaurar o que se perdeu precisam ser uma agenda estratégica para o país”, ressalta Marcia Hirota, diretora do SOS Mata Atlântica.
Mario Mantovani, também diretor fundação, comentou sobre as áreas com grande desmatamento do pouco que resta da mata atlântica. “Sabemos que a expansão agrícola é um importante ativo econômico para o Brasil, mas não podemos continuar a conviver com um modelo de desenvolvimento às custas da floresta nativa e de um Patrimônio Nacional. … Nossa sociedade não aceita mais o desmatamento como o preço a pagar pela geração de riqueza”.
Mangue e restinga
Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, no período de 2013 a 2014, não foi identificada, pela escala adotada, supressão da vegetação de mangue. Na mata atlântica, as áreas de manguezais correspondem a 231.051 hectares. Já a supressão de vegetação de restinga foi de 309 ha.
Imagens
Segundo Flávio Jorge Ponzoni, pesquisador e coordenador técnico do estudo pelo INPE, nesta oportunidade foram utilizadas imagens do sensor OLI do satélite Landsat 8, as quais apresentam características técnicas similares daquelas utilizadas na geração das versões anteriores deste Atlas. “Essa similaridade garante a comparação entre dados gerados em edições passadas do Atlas, que foram geradas fundamentalmente pela análise de imagens do sensor TM/Landsat 5”.
Desde sua quinta edição, de 2005-2008, o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica considera os limites do bioma mata atlântica tendo como base o Mapa da Área da Aplicação da Lei nº 11.428, de 2006. A utilização dos novos limites para os biomas brasileiros implicou na mudança da área total, da área de cada Estado, do total de municípios e da porcentagem de mata atlântica e de remanescentes em cada uma destas localidades.
A mata atlântica está distribuída ao longo da costa atlântica do país, atingindo áreas da Argentina e do Paraguai nas regiões Sudeste e Sul. De acordo com o Mapa da Área de Aplicação da Lei nº 11.428, a Mata Atlântica abrangia originalmente 1.309.736 km2 no território brasileiro. Seus limites originais contemplavam áreas em 17 Estados. Nessa extensa área, vivem atualmente mais de 72% da população brasileira.