No Dia Mundial da Água, nesta sexta-feira (22), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alerta que duas mil crianças com menos de cinco anos morrem diariamente de diarreia no mundo, por conta de doenças relacionadas à água contaminada, falta de saneamento e de hábitos de higiene. O que representa uma morte a cada 15 segundos, chegando à preocupante marca de 3,5 milhões ao ano. Essa doença, alerta a Organização das Ações Unidas (ONU), poderia ser praticamente eliminada se houvesse esforço do poder público, principalmente nos países em desenvolvimento.
Os dados merecem atenção dos gestores públicos no Espírito Santo. O estudo “Esgotamento Sanitário Inadequado e Impactos na Saúde da População”, da organização da sociedade civil Trata Brasil, atualizado este mês, avaliou a questão do saneamento nos 100 municípios mais populosos do país, quatro capixabas: Vitória, Serra, Vila Velha e Cariacica.
Nessas cidades, das internações por diarreia de crianças na faixa etária estudada, por 100 mil habitantes, Vitória lidou os índices em 2011, com R$ 58,5%, seguida de Cariacica, com R$ 48%; Vila Velha, com R$ 46,7%, e Serra, com R$ 45,1%. Os índices das dez cidades com as maiores taxas de internação variaram de R$ 77,1% (Duque de Caxias) a 66,7% (Uberaba).
No Brasil, de 396.048 pessoas internadas por diarreia no mesmo período, 138.447 foram crianças menores de cinco anos (35%). Já nas 100 maiores cidades, 54.339 pessoas foram internadas (14%), sendo 28.594 crianças na faixa etária estudada. O que significa que as crianças menores de cinco anos representaram 53% das internações por diarreia nas maiores cidades e 21% destas internações no Brasil.
Os resultados, para o presidente executivo do Trata Brasil, Édison Carlos, reforçam que as crianças são a parcela mais vulnerável quando a cidade não avança em saneamento básico.
O total de internações por diarreia em 2011, além das crianças menores de cinco anos, representou gastos para o Sistema Único de Saúde (SUS) de R$ 140 milhões, sendo que nas 100 maiores cidades estudadas foram gastos R$ 23 milhões, equivalente a 16,4% do total. Nos quatro municípios do Estado, esses gastos chegaram a R$ 88.890,00: Cariacica R$ 28.215,00; Vitória R$ 23.167,00; Vila Velha R$ 20.449,00, e Serra R$ 16.978,00.
Considerando a média de internações registrada entre os anos de 2008 a 2011, no Estado, a Capital também superou as demais cidades capixabas, com 63,7%, seguida por Cariacica, com 62,6%. O município da Serra aparece em terceiro lugar, com 56,2%, e Vila Velha por último, com índice bem abaixo dos demais, 27,9%.
“Infelizmente, o atendimento em saneamento básico ainda divide o Brasil. Cidades bem atendidas em água e esgotos economizam recursos com saúde e seus cidadãos são mais saudáveis, sobretudo as crianças. Enquanto isso, outras cidades gastam muito em internações e condenam seus cidadãos a conviver com mais doenças da água poluída. É uma irresponsabilidade as autoridades, sobretudo os prefeitos, assistirem a isso passivamente”, ressaltou Édison Carlos.
As doenças diarreicas consideradas no estudo foram cólera, shiguelose, amebíase, infecções por salmonela, infecções intestinais bacterianas, doenças intestinais por protozoários, infecções intestinais virais, diarreia e gastroenterite de origem infecciosa presumível.