“Não foi acidente. Não vamos esquecer. Eles sabiam que ia romper. Vale, Samarco, BHP”.
“Quanto vale a vida? Estamos vivos, estamos juntos, somos muitos”.
“Ver, julgar e agir”.
“Tomar água nos dará vida. Tomar consciência nos dará água”.
Com frases como essas os participantes do III Manifesto em favor do Rio Doce percorrerão as ruas de Colatina neste sábado (4), a partir das 8h, numa grande marcha organizada pela Diocese de Colatina e mais vinte entidades locais e estaduais.
O ato tem início na praça do bairro São Silvano, passará pela Ponte Florentino Avidos, pela avenida principal da cidade, e se encerrará no Cais, com a leitura do Manifesto escrito pelas entidades organizadoras, entre elas, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/ES), o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Ministério Público, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Associação das Igrejas, Pastores e Líderes Evangélicos de Colatina.
“É aberto a todas as pessoas, porque somos todos atingidos”, convida o Bispo da Diocese de Colatina, Dom Wladimir Lopes Dias. “E cada um pode se expressar à sua maneira nessa caminhada”, estimula o Bispo, ressaltando que o formato de marcha, em duas filas, vai dar mais visibilidade aos cartazes e faixas empunhados pelos participantes, que, pedem os organizadores, devem ir vestidos de preto, “para demonstrar situação de luto e morte sobre o que aconteceu”, diz Dom Wladimir.
Para o Bispo, o crime aconteceu porque o lucro foi colocado acima das pessoas. “Dentro de uma visão mais espiritual, franciscana, vemos a falta de preservação da natureza, da Nossa Casa Comum”, observa.
Entre as graves consequências que até hoje levam sofrimento à vida de mais de um milhão de pessoas diretamente atingidas, Dom Wladimir cita a falta de água e o impedimento do exercício de atividades econômicas tradicionais como a pesca. Muitos pescadores de Colatina, relata o Bispo, por não possuírem carteira profissional à época do crime, estão até hoje sem qualquer assistência por parte da Fundação Renova, sobrevivendo pela solidariedade das pessoas e por meio de “bicos”, como coleta de latinhas para reciclagem.
A água é outro problema ainda sem solução adequada. “Aqui em Colatina, o Rio Doce, metade dele, é só lama da Samarco. As pessoas entram nele e, quando pisam, levantam aquele pó, saem com aquela lama nos pés. Qual vai ser impacto dessa lama na saúde das pessoas?”, questiona, cobrando uma limpeza do Rio pelas empresas criminosas, bem como o fornecimento de água mineral de qualidade para a população, especialmente a mais carente, que não tem condições financeiras de comprar água mineral.
“Há dias em que depois de tomar banho, a pele fica ardendo. A água está saindo muito branca, devido à grande quantidade de produtos e a pele, sensível, sente. Imagina isso dentro do estômago!”, adverte, indagando também sobre a qualidade da água mineral vendida na cidade “Qual a origem dessa água mineral, que é vendida em todo lugar, sem qualquer fiscalização?”, protesta.
O Manifesto pelo Rio Doce continuará sendo realizado até 2024, pois em novembro de 2015, a Diocese de Colatina firmou um compromisso com a sociedade, de, durante dez anos seguidos, “manter vivo na memória do povo e cobrar a reparação desse crime”.
Ainda em novembro, mais dois eventos já estão programados na cidade: o seminário “Quanto vale o rio? Dois anos de impactos sociais e ambientais e a luta por justiça”, que acontece no dia 22, às 19h, no auditório da Diocese; e a audiência pública “Quanto vale a água?”, no dia 30, às 18h30, no auditório da Câmara de Vereadores.
Serviço:
III Manifesto em favor do Rio Doce
Dia 4 de novembro (sábado), em Colatina, a partir das 8h
Concentração na praça do bairro São Silvano e marcha pela Ponte Florentino Avidos, pela avenida principal da cidade e encerramento no Cais, com leitura do manifesto.
Ir vestido de preto e com faixas, cartazes e outros sinais de protesto e luto pelo crime.