As conclusões reforçam o posicionamento de que a maior tragédia ambiental do País foi de responsabilidade das empresas. A PF constatou ainda que a Vale, que sempre se eximiu de participação na tragédia, jogava rejeitos na barragem que rompeu em volume superior ao admitido. De acordo com o delegado Roger Lima, que atuou nas investigações, a mineradora – que é uma das sócias controladoras da Samarco ao lado da BHP Bilinton – inicialmente negou lançar material na barragem, depois admitiu ser responsável por 5%, mas ficou constatado ela ser responsável por 27% da lama depositada em Fundão.
Já a Samarco sequer tinha controle sobre os depósitos, de acordo com a PF. Também foi apurado que a empresa não fazia o monitoramento adequado da barragem, bem como tinha um plano de emergência desatualizado e reduziu os gastos para prevenção de tragédias, como a ocorrida no último dia 5 de novembro. O relatório policial revela a contradição da Samarco que, ao passo que reduziu o orçamento em geologia, aumentou os investimentos para a produção. A PF também apontou que o licenciamento ambiental foi feito sem o cumprimento das condicionantes.
De acordo com informações divulgadas pelo jornal Estado de Minas, o inquérito policial tem 12 volumes, com 3,7 mil páginas, e mais 24 apêndices, que tem o dobro de páginas do inquérito principal. Na coletiva à imprensa nesta quinta, o delegado-chefe da Delegacia de Crimes Contra o Meio Ambiente e Patrimônio Histórico afirmou que as constatações foram obtidas por meio de laudos e depoimentos que comprovam que a barragem foi mal construída, mal monitorada, usada acima da capacidade, e que a Samarco não tomou providência para evitar o acidente mesmo tendo ciência de todos os problemas.
Entre os indiciados por crime ambiental e danos ao patrimônio cultural, estão: o presidente licenciado da Samarco, Ricardo Vescovi de Aragão; o diretor-geral de operações, Kléber Terra; o gerente-geral de projetos, Germano Lopes; gerente de operações, Wagner Alves; o coordenador técnico do planejamento e monitoramento, Wanderson Silvério; e a gerente de geotecnia de barragens, Daviely Rodrigues; além do engenheiro Samuel Loures, da VogBR. Também foi incluído agora o gerente da Mina Alegria, da Vale, único que não teve a prisão pedida pela Polícia Civil, que investiga a ocorrência de outros crimes, como homicídio com dolo eventual, inundação e poluição de água potável.