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‘É necessário inverter os valores e pensar em um desenvolvimento sustentável’

Gestão ambiental de Renato Casagrande foi criticada em conferência estadual

“A primeira coisa que deveria ser feita é uma mudança de mentalidade do poder público. Não por uma questão ideológica, mas por sobrevivência. Mais importante do que qualquer recurso financeiro, é entender que o desenvolvimento que temos realizado é insustentável e tem nos levado por um caminho cada vez mais sem volta”. A avaliação é de Fábio Giori, diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Espírito Santo (Sindaema-ES), que participou como delegado da etapa estadual da Conferência de Meio Ambiente, realizada nesse sábado (15) no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), campus de Cariacica.  

Arquivo Pessoal

A gestão ambiental do governo de Renato Casagrande (PSB), liderada por Felipe Rigoni (União Brasil), tem sido alvo de críticas crescentes por parte de ambientalistas e da sociedade civil. Um dos pontos críticos abordados foi o Programa Estadual de Desenvolvimento Sustentável das Unidades de Conservação (Peduc), que estabelece a transferência do manejo de seis parques naturais para exploração pelo empresariado: Paulo César Vinha, em Guarapari; Itaúnas, em Conceição da Barra, no norte do Estado; Cachoeira da Fumaça (PECF), em Alegre, e Forno Grande (PEFG) e Mata das Flores (PEMF), em Castelo, ambos no sul do Estado; e Pedra Azul (Pepaz), em Domingos Martins, na região serrana.   

Os conferencistas divulgaram uma moção de repúdio contra o programa, considerado uma contradição de Casagrande, que é presidente do Consórcio Brasil Verde – Governadores pelo Clima, iniciativa que diz reunir governadores comprometidos com políticas de sustentabilidade. No entanto, a medida desrespeita os princípios ambientais defendidos pelo consórcio, destaca Fábio. “Como imaginar que essas políticas sairão do papel em um Estado que quer privatizar suas áreas protegidas? “É necessário inverter os valores e pensar em um desenvolvimento sustentável”, defende. 

O encontro, que reuniu especialistas, gestores e representantes da sociedade civil para debater o tema “Emergência Climática: os desafios da transformação ecológica”, marcou o retorno das conferências ambientais após um hiato de mais de uma década. No entanto, a falta de continuidade das políticas ambientais e a recente proposta de privatização de unidades de conservação geraram fortes críticas entre os participantes. “O desafio é grande”, destacou o representante sindical. 

Ele apontou a descontinuidade das propostas aprovadas anteriormente. “Você tem planejamento para ter política de Estado, e não política de governo. Infelizmente, ficamos 11 anos sem debater as propostas e colocá-las em prática”, acrescenta. 

Durante a conferência, foram aprovadas quatro temáticas prioritárias para cada um dos cinco eixos de debate: mitigação, avaliação e preparação para desastres, justiça climática, transformação ecológica e governança, e educação ambiental. Dentre as propostas, que serão levadas à Conferência Nacional nos dias 6 a 9 de maio, em Brasília, uma das principais foi a criação de um plano e um fundo de emergências climáticas, unindo esforços entre os governos federal, estadual e municipal.

“Os governos federal, estadual e municipais precisam criar um fundo de emergências climáticas, interligando suas ações dentro de um plano comum”, explicou, ressaltando a importância do controle social na gestão desses recursos. “O fundo deve ser voltado para justiças climáticas, garantindo políticas públicas para populações mais vulneráveis, como periféricos, mulheres e pessoas negras”.  

Para Fábio, a criação do fundo e do plano de emergências climáticas são avanços significativos, mas o desafio maior é garantir sua implementação e continuidade, reforça. “Se não agirmos agora, o futuro será um daqueles cenários apocalípticos dos filmes de ficção científica”, alertou.

Ele destaca ainda que a crescente preocupação com os impactos das mudanças climáticas escancara um problema estrutural: a relação direta entre a concentração de riqueza e a degradação ambiental. A falta de um planejamento estruturado nos municípios agrava essa vulnerabilidade, destaca, considerando que o 1% mais rico da população mundial é responsável por 66% dos efeitos nefastos ao meio ambiente, enquanto os mais pobres são os que menos têm condições de se proteger dos desastres naturais.

Diante deste cenário que acirra desigualdades estruturais, Fábio reforça a reivindicação para que o poder público assegure maior participação da sociedade civil na gestão dos recursos, para garantir que a população mais afetada esteja no centro das decisões.

Ao todo, foram escolhidos sete delegados da sociedade civil e sete do poder público e setor empresarial para representar o Estado na conferência nacional. “Nosso papel será de esperança, militância crítica e propositiva. Precisamos acreditar que outro mundo é possível”, enfatiza Fábio. 

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