Os índios Tupinikim e Guarani de Aracruz, norte do Estado, voltaram a ocupar a área onde está localizada a torre de energia da EDP Escelsa que corta as aldeias na noite dessa terça-feira (8). O protesto foi retomado após a empresa descumprir o compromisso de apresentar uma contraproposta de indenização às comunidades por explorar suas terras há pelo menos 40 anos.
Ao invés de negociar a compensação financeira, os representantes da EDP ofereceram uma rede de fornecimento de energia para as aldeias, o que os índios entendem como o mínimo de sua obrigação. Durante todos esses anos, além de não oferecer qualquer contrapartida aos indígenas, a empresa sempre dificultou a cessão de energia às comunidades.
A postura da empresa no encontro na Câmara de Aracruz na tarde dessa terça revoltou as lideranças indígenas, que haviam recuado da ocupação na última sexta-feira (4), depois de quatro dias, para atender ao pedido da EDP de aguardar a nova rodada de negociação.
Para intimar as lideranças do movimento, que agora deve radicalizar, a empresa acionou a Justiça Federal. Nesta quarta-feira (9), os caciques Pedro Silva Karai, da aldeia de Piraquê-Açu, Toninho, de Comboios; e Fabiano, de Caieiras Velhas, foram intimados para que não realizem mais protestos na área da torre, sob ameaça de serem presos. Mas eles não recuaram e a ação no local continua.
Também nesta quarta, à tarde, a tropa de choque da Polícia Militar esteve na área para cumprimento de “reintegração de posse”. As terras, no entanto, não pertencem à EDP, e sim aos índios. A pedido dos caciques, a Fundação Nacional do Índio (Funai) entrou no processo para intermediar a negociação.
O território explorado pela empresa há mais de 40 anos, segundo os índios, é de 70 hectares, e poderia ser utilizada para plantios de alimentos.
Caso a empresa insista em não buscar um acordo, os Tupinikim e Guarani estão dispostos a interromper o fornecimento de energia da torre. Na última semana, eles chegaram a atear fogo na área.
A negociação com a EDP é a primeira da série que os índios irão fazer para garantir os direitos das comunidades, que têm suas terras exploradas e impactadas por empreendimentos instalados no município.
Além da Aracruz Celulose, que se apropriou e explora as terras indígenas há décadas, geram prejuízos aos Tupinikim e Guarani a Vale, com sua estrada de ferro; a Petrobras, com um gasoduto, e empresas portuárias – Portocel (também da Aracruz), o Estaleiro Jurong, e o planejado Imetame, que acabaram com a pesca tradicional.
O grupo EDP – Energias do Brasil SA (dono da antiga estatal Escelsa) é controlado pela EDP Energias de Portugal S.A, uma das maiores operadoras europeias no setor energético.