Espaço digital se propõe a ser um ‘altar da verdade e honra ao Patrono da Ecologia do Brasil’
Ser “o altar da verdade e da honra do Patrono da Ecologia do Brasil”. Essa é proposta do Memorial Augusto Ruschi, lançado na última quarta-feira (3), quando completam-se 34 anos da morte de um dos mais renomados cientistas e ambientalistas brasileiros.
Capixaba de Santa Teresa, na região serrana capixaba, Augusto Ruschi foi um cientista respeitado e um ambientalista destemido, homenageado postumamente com um dos principais títulos do Estado brasileiro aos defensores da natureza.
Aos 34 anos, Ruschi fundou o primeiro museu de história natural do Espírito Santo, o Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, em 1949, no sítio onde vivia com sua família. Autodidata desde a infância, apaixonado pela natureza, em especial pelos beija-flores e orquídeas, aprendeu na prática, em suas andanças de dias inteiros e seguidos pela floresta.
Notabilizou-se como o maior conhecedor, à sua época, dos colibris, pássaro que tornou-se símbolo da cidade de Santa Teresa em homenagem aos conhecimentos levantados pelo cientista, que descreveu dezenas de espécies. Ruschi escreveu mais de 400 artigos científicos sobre temas diversos, especialmente sobre a biodiversidade da Mata Atlântica. Pesquisou e publicou também sobre agroecologia e coordenou trabalhos de controle da esquistossomose e da raiva bovina e foi responsável pelos estudos que embasaram a criação da maior parte das unidades de conservação existentes hoje no Espírito Santo.
Na militância ambientalista, empreendeu notória luta contra manobras políticas voltadas a descaraterização da floresta por ele protegida na Estação Biológica de Santa Lúcia, anexa ao Museu Mello Leitão, e levantou bandeiras contra a expansão dos monocultivos de eucalipto no norte do Estado, pela Aracruz Celulose, e contra a escolha da Ponta de Tubarão para instalação da Companhia Vale do Rio Doce.
A declaração, que resume o sentimento que moveu a criação do memorial, é de Piero A. Ruschi, biólogo especialista em beija-flores, filho mais novo do naturalista. Criado dentro do Museu Mello Leitão, “brincando de tratar animais e ajudar pesquisadores até desenvolver suas próprias pesquisas em nome do Museu”, Piero pôs em prática, com a criação do Memorial, o desejo de sua mãe, Marilande A. Ruschi, esposa do cientista ao longo de mais de três décadas de trabalho dedicadas ao Museu de Biologia Prof. Mello Leitão.
No Histórico do Memorial, Piero conta que as primeiras intuições que teve sobre a necessidade de proteger a memória e honra de seu pai surgiram entre 2014 e 2017, enquanto cursava o Doutorado em Zoologia no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), quando “vivenciou situações absurdas que apenas conhecia por meio de histórias”, descobrindo “que, de fato, existem odiadores do Patrono da Ecologia do Brasil dentro da comunidade científica brasileira”. E no Espírito Santo, dentro do próprio Museu por ele criado, Piero conta ter descoberto que “as obras deixadas por seu pai estavam sendo planejadamente desmanchadas”.
Por meio do diálogo, inicialmente, ele conta que conseguiu impedir que as coleções científicas e pesquisas fossem removidas da área urbana de Santa Teresa e levadas para regiões afastadas do Museu, mas a partir daí “passou a sofrer ataques covardemente escondidos por trás do nome do Museu que seu pai construiu, o qual também impediu que ele continuasse a exercer suas atividades de pesquisa voluntária junto ao Museu”.
A missão do Memorial, ressalta a família, é “honrar a memória do Patrono da Ecologia no Brasil”, sendo “o altar da verdade e [sua] honra”, por meio do desenvolvimento de projetos independentes e colaborativos focados em três objetivos: compilar e divulgar informações confiáveis sobre Augusto Ruschi e o legado cultural por ele deixado à sociedade; elucidar informações confusas, obscuras, distorcidas ou falsas sobre Augusto Ruschi e seu legado; e promover a qualidade de vida humana e não humana.
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