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Empresa de macrodrenagem avança contra horta comunitária em Vitória

Comunidade quer audiência pública e avaliação de viabilidade de obra, que também ameaça árvores centenárias

Divulgação

Moradores do bairro Santa Tereza, em Vitória, temem pela possibilidade de a Horta Comunitária ser destruída por causa de uma obra de macrodrenagem prestes a ser realizada por uma empresa contratada pela gestão do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos). Funcionários do empreendimento estiveram no local nessa quinta-feira (4), segundo os moradores, e começaram a capinar no espaço da horta, gerando discussão entre os profissionais e pessoas da comunidade.

A situação foi debatida em uma reunião na comunidade, contando com a presença do vereador Dalto Neves (PDT) e de representantes dos vereadores André Moreira (Psol) e Karla Coser (PT). Entre os encaminhamentos estão a solicitação de uma audiência pública junto à Prefeitura de Vitória, algo que a comunidade pretende fazer na próxima segunda-feira (8). Também existe a possibilidade de se criar uma comissão para avaliar o projeto, seus impactos e possíveis contrapartidas para a horta comunitária. Também foram debatidos argumentos técnicos sobre a própria viabilidade da obra, que deverão ser utilizados em questionamentos junto aos órgãos competentes.

Dalto Neves foi um dos responsáveis por viabilizar a doação do terreno da horta à comunidade, mas é um aliado de Pazolini e estaria mais propenso a defender a posição do prefeito. Já Karla Coser e André Moreira são vereadores de oposição. O líder do Governo na Câmara de Vitória, vereador Duda Brasil (União), também foi convidado para a reunião, mas ele não compareceu, alegando que já tinha outras agendas marcadas.

O projeto da obra de macrodrenagem foi apresentado como “fato consumado” aos moradores no fim de novembro passado, contando com a presença de Duda Brasil. As intervenções fazem parte de ações em andamento desde abril de 2023, com investimento de R$ 139 milhões, e viabilizariam a construção de dois reservatórios de contenção de águas das chuvas, evitando alagamentos.

Segundo a Prefeitura de Vitória, as obras beneficiariam moradores dos bairros Mário Cypreste, Santo Antônio, Inhanguetá, Estrelinha, Grande Vitória, Universitário e Santa Tereza. A gestão de Pazolini também alega que foi reservado um espaço para a horta, mas a comunidade afirma que as intervenções vão prejudicar o trabalho.

Os primeiros plantios da Horta Comunitária de Santa Tereza, que tem apoio da Rede Urbana Capixaba de Agroecologia (Ruca), se deram em 2021, e hoje ela atende 35 famílias com alimentação saudável e plantas medicinais. A horta foi criada no espaço de 51 mil metros quadrados de uma antiga estação da Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan), que estava desativada há mais de dez anos e foi cedida à comunidade em 2018, após uma mobilização que data de 2006.

Antes de passar para as mãos da comunidade, o espaço gerava mau cheiro e era usado para todo tipo de crimes e violações. Atualmente, além da Horta Comunitária, são realizadas diversas iniciativas da comunidade na parte construída, que conta com cinco salas, incluindo eventos e ações de apoio a famílias em situação de vulnerabilidade.

Em 2022, os responsáveis pela Horta Comunitária permitiram que houvesse uma escavação da Prefeitura de Vitória visando captação de água, que supostamente atenderia o bairro Joana D’arc. Em novembro passado, porém, uma assistente social e uma engenheira visitaram o local e disseram que o espaço receberia as obras de macrodrenagem, gerando apreensão nos moradores.

De acordo com eles, o projeto prevê que fique apenas um pequeno espaço de oito metros quadrados para a horta, e que seja feito o corte de árvores centenárias, como um pé de fruta-pão muito utilizado pela comunidade. “De 51 mil metros quadrados, eles só querem nos ceder oito metros quadrados. E ainda querem nos colocar no pior lado, onde só tem pedras”, afirma Viviane Rodrigues, coordenadora do projeto de hortas comunitárias na região de Santa Tereza. A empresa é identificada como “Contrato Serviço”.

“Nos disseram que a obra é para acabar com os alagamentos na região. Mas o que precisa ser feito aqui são muros de arrimo e obras para diminuir os riscos, e não acabar com espécies nativas da mata atlântica. Estou desesperada só de imaginar arrancando aquelas árvores. Falaram que não podem deixar passar uma obra de R$ 140 milhões que vai trazer desenvolvimento, mas sabemos que tudo isso é mentira”, protesta.  

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