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Encontro de etnias abre Festival Regenera Rio Doce

“A alma do Watu [nome que alguns povos indígenas dão ao Rio Doce] não morreu, nunca vai morrer, a cura é um aspecto imaculado, uma força universal que está sempre disponível, basta abrir o canal e se conectar”. As palavras da artista corporal e muralista Ananda Mida, resume o sentimento que guiou as atividades no primeiro fim de semana do Festival Regenera Rio Doce, que aconteceu na comunidade de Areal, a cerca de 12 km de Regência, na Foz do Rio Doce.

Ananda é uma das coordenadoras – ou, como ela prefere, uma das “entusiasmadas” – do evento, que reuniu membros das etnias Krenak, Botocudos, Guarani, Tupiniquim e Pataxó, da comunidade de catadores tradicionais de caranguejo de Campo Grande/São Mateus, além de ativistas da Agroecologia, guardiães de sementes crioulas e “entusiasmados” diversos com os processos de cura individual, coletiva e planetária, vindos de várias partes da Bacia do Rio Doce, do estado e do país.

Durante todo o sábado e domingo, uma tenda com telhado de palha abrigou os participantes e suas trocas de sementes crioulas, de ervas e medicamentos naturais, de saberes e afetos. “De tanto ficar empolgado com a regeneração por fora, a gente começou a perceber que na verdade regeneração é uma chama dentro da gente. Passa pela purificação, pela nossa conexão, pelo silêncio, por reconhecer os términos e as transformações e abrir esse espaço pro novo, pro inesperado”, explica Ananda. “A gente está aprendendo com o Festival”, afirma.

A terapeuta Myo Pataxó, coordenadora do projeto Roda de Saberes, em Governador Valadares/MG, e aprendiz de xamanismo com a Pajé Jaçanã, focalizou uma das atividades, contando lendas indígenas que “explicam” a origem, e propriedades de algumas substâncias da floresta que possuem poder curativo.

Sua intenção foi somar no processo de resgate de conhecimentos tradicionais sobre as plantas medicinais da Mata Atlântica ao longo do Rio Doce. “Esse trabalho da medicina tradicional indígena vai ser um despertar pra um conhecimento que eles já têm. Vai contribuir no sentindo mais energético, do empoderamento”, profetiza.

Algumas gotas de almíscar serão lançadas no Rio, simbolicamente trabalhando com o poder de “cicatrização da memória de dores de sofrimento e de perda”, que a almíscar possui.

“Sementes nativas”

A arte terapeuta Kate Parker moradora de Vitória, levou sua filha para participar do Festival para ter aulas práticas de “geografia, antropologia e relações sociais”, metaforiza a mãe que, pessoalmente, também se viu num contexto de aprendizagem. “Enquanto artista eu vim aqui porque eu acredito que o artista deve retratar aquilo que é maior do que ele. Eu vim aqui aprender”, afirma.

As crianças foram personagens de destaque e continuarão a ser, durante e após o Festival. Chamadas de “sementes nativas”, elas serão o foco das atividades que se seguirão após o término do evento, no dia 31 de julho.

No dia primeiro de agosto terá início o chamado Grande Ciclo, em que a rede de educação da Bacia do Rio Doce receba os “entusiasmados” que pedalarão de Regência até Mariana, levando uma rádio escolar, que permitirá trocas de informações entre as crianças de toda a bacia hidrográfica.

Serão três semanas na Foz, em seguida mais um período semelhante no médio Rio Doce, região de Governador Valadares/MG, culminando no alto do rio, na também mineira cidade de Mariana. “A intenção é estar em Mariana quando o crime completa dois anos [cinco de novembro de 2017], com toda essa fala das sementes nativas desejando um novo futuro ao rio”, anuncia Ananda.

Até o dia 31 de julho, o Festival Regenera prossegue em vários locais da Foz Do Rio Doce, com uma programação afetiva e diversificada. “O Festival é feito de amor e fé, com cada um dando o melhor de si”, convida.

Saiba mais no site e na fanpage do evento. E, para contribuir com o financiamento colaborativo, faça sua doação até o próximo dia 24. 

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