“Estamos levando ‘na raça’”, brinca o engenheiro eletricista Borges Tavares, proprietário da BVK Energia Solar e membro do Grupo Pró Energia Solar ES, que congrega empresários, políticos, pesquisadores e estudantes com objetivo de fomentar a produção de energia fotovoltaica no Espírito Santo.
Apesar de não ter nenhuma contribuição governamental, a sociedade, os empreendedores e os técnicos têm alavancado a produção de energia limpa, mostrando o potencial do Estado em se tornar referência brasileira no setor.
E olha que falamos de um país que tem registrado um crescimento exemplar na expansão da produção fotovoltaica de energia elétrica. Em um ano, entre agosto de 2014 e setembro de 2015, saltamos de 1.148 conexões para 5.040, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Já foram realizados três leilões exclusivamente voltados a essa modalidade, com grande sucesso.
Os benefícios não são só para o consumidor que instala o equipamento, ou para o meio ambiente, mas também para a economia nacional, estadual ou regional. Veja o caso de Tabocas do Brejo Velho, no sul da Bahia, que está recebendo a maior usina de energia solar da América Latina.
No Espírito Santo, os municípios com maior irradiação do sol são economicamente pouco expressivos, na avaliação de Borges, citando, no sul, Atílio Vivácqua e São José do Calçado, e várias cidades no norte e noroeste.
Isenção de ICMS
Mão de obra especializada, renda per capita razoável para uma significativa parcela da população, extensão territorial reduzida, grande insolação. Esses são alguns dos fatores que conformam a nossa vocação para a energia solar, na avaliação de Borges, que cita também o grande potencial adormecido para a utilização de outros insumos sustentáveis, como vento, biomassa e biogás.
Um ponto importante que precisa avançar na realização desse imenso potencial está nas mãos do governo Paulo Hartung: a adesão ao Convênio nº 16/2015 do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), que isenta do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) os consumidores que possuírem sistemas de micro e minigeração instalados em residências ou estabelecimentos comerciais.
Vinte estados já se beneficiam do convênio e, na região Sudeste, o Espírito Santo é o único que ainda não participa. A adesão é uma das principais reivindicações do Grupo Pró Energia Solar ES.
Investimento retorna após seis a dez anos
Na experiência de instalação de micros e minissistemas de geração de energia solar no interior e na Grande Vitória, o engenheiro eletricista Borges relata que o investimento feito pelo consumidor retorna após seis a 10 anos, sendo que, quanto maior a capacidade do sistema, mais rápido é o retorno. Numa residência com duas pessoas, são utilizadas, em média, seis placas fotovoltaicas, que custam entre R$ 13 e 15 mil e geram cerca de 200 KW/H por mês.
O custo da geração de energia solar no mundo tem registrado, nos últimos dez anos, uma redução anual em torno de 8%. No Brasil, 2012 foi o marco na disseminação desse tipo de energia, quando a ANEEL publicou a Resolução Normativa nº 482/2012, permitindo que micros e minissistemas de energia elétrica passassem a ter acesso às redes elétricas das concessionárias.
Antes disso, só era possível contar com as caras e antiecológicas baterias, que armazenavam a energia produzida nos dias de sol, para ser utilizada à noite e em dias nublados ou chuvosos. Com a ligação às redes das concessionárias locais – no nosso caso a EDP Escelsa – a energia em excesso é “emprestada” à concessionária, que a “devolve” quando o consumidor necessita. Essa medida impulsionou a energia solar no mundo todo, não só no Brasil. As baterias tornam o mesmo sistema duas a três vezes mais caro e têm vida útil muito curta, em torno de três anos.
Além dos benefícios para o bolso e a consciência ambiental do consumidor, à conexão à rede elétrica local também beneficia o próprio sistema, pois reduz as perdas e a necessidade de ampliação do sistema, aumenta a segurança no abastecimento, entre outros benefícios.
O paradigma agora, afirma Borges, é gerar energia o mais próximo possível do local de consumo. “Não significa que precisa jogar fora o que já existe, os dois têm que ser complementares”, pondera.