Resultado: o lixo continua sendo jogado nas areias e nos rios, indo parar no mar e no imenso oceano, que já parece pequeno para comportar tamanha ignorância humana. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), estima-se que em 2050 haverá mais plástico do que peixe nos oceanos e que 99% das aves marinhas terá ingerido plástico. Os prejuízos causados por essa avalanche de lixo devem chegar a US$ 8 bilhões, segundo a ONU.
Hoje, nos estudos feitos pelo Projeto Tamar, 40% dos animais necropsiados possuem lixo no seu trato intestinal, sendo que a maioria é plástico. “O lixo, para as tartarugas marinhas, é um grande impacto”, afirma a médica-veterinária Cecília Baptistotte, coordenadora regional do Tamar no Espírito Santo e Rio de Janeiro.
Plástico até no sal que ingerimos
“A ingestão de lixo pode causar obstrução no trato gastrointestinal, levando à morte, pode diminuir o trânsito intestinal, causando impacto no metabolismo lipídico do animal, ou seja, afeta o metabolismo e pode causar perfuração no trato gastrointestinal, causando uma infecção generalizada no animal e levando a óbito”, enumera Cecília, alertando que já estão sendo encontrados resíduos de plástico nos peixes e até no sal que a população consome.
Em uma de suas palestras sobre o assunto, a médica-veterinária cita dados da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, que estimam o consumo mundial de sacolas plástico entre 500 bilhões e 1 trilhão de unidades por ano. O plástico corresponde a cerca de 70% do total de lixo jogado nos oceanos e apenas 1% das sacolas utilizadas no mundo são recicladas.
Microplásticos são maioria!
Um estudo feito pelo jornalista João Malavolta, em conjunto com a Escola Técnica Estadual de Itanhaém, na praia dos Pescadores, na cidade de Itanhaém, litoral de São Paulo, revelou que 88% do lixo plástico encontrado na região era formado por microplástico (com tamanhos menores que 5 mm).
Essas partículas tornam a contaminação da água e dos animais – humanos inclusive – ainda mais difícil de ser controlada. No estudo, o jornalista explica que existem basicamente dois tipos de microplástico: os que já são produzidos em tamanho micro, servindo com abrasivos em produtos de limpeza industrial, doméstica e também em cosméticos, como cremes esfoliantes e pastas de dente; e os gerados por meio da fragmentação/decomposição de fragmentos maiores, por meio dos raios solares ultravioletas (UV).
“A solução para os problemas ambientais visando à diminuição do consumo de plástico e seu descarte inadequado deve passar por um amplo trabalho de educação para a sustentabilidade junto aos povos, e um novo pacto entre os governos, indústrias, sociedade civil e demais tomadores de decisão, para a busca de soluções conjuntas, que consigam criar cenários que favoreçam a diminuição do consumo de embalagens descartáveis, a economia circular e o uso racional dos bens naturais”, pondera João.
No litoral capixaba, assim como na maioria das praias brasileiras, chama atenção o descaso absoluto com o destino dos resíduos sólidos. Em Praia de Carapebus, por exemplo, no município metropolitana da Serra, foram os guarda-vidas que providenciaram a única lixeira em toda a extensão da praia.
Leve o seu lixo e o dos outros também
Instalada próximo à Lagoa de Carapebus, ajudou a reduzir um pouco o lixo jogado nas areias e, fatalmente, “engolido” pelo mar, pelos peixes, golfinhos, tartarugas … “Levei um latão que tinha no meu quintal, o Napoleão comprou a tinta pra pintura e o Bruno ajudou a montar tudo”, narra o guarda-vidas local Arnaldo de Jesus Pereira.
Frequentador assíduo da Praia de Carapebus, o educador físico Sérgio Falcão Salgado é uma das exceções à regra, integrante de um “time” que tem crescido, felizmente, o dos banhistas que não só levam o próprio lixo embora, mas também recolhem outros resíduos que encontra no caminho de areia até o mar e ao redor de sua canga/guarda-sol. “Eu e minha família acreditamos que devemos fazer a nossa parte, deixando a praia em melhores condições do que a encontramos”, conta.
Mas, afinal de contas, por quê?
A educadora ambiental Roberta Cordeiro Fassarella arrisca uma explicação para a persistência de um comportamento tão arcaico, em pleno século XXI, que é o de jogar o lixo fora da lixeira, seja nas ruas, praças ou praias. “Quanto mais as pessoas se entendem dissociadas do ambiente, menos elas refletem a respeito de ser-estar naquele (eco)sistema. Subjacente, estou falando da indiferença, responsabilidade e do cuidado com as interrelações com os outros e com/no meio em que vivem”, problematiza a pesquisadora.
“O ser humano precisa realmente rever seus conceitos e fazer por onde tornar o mundo um lugar melhor de se viver”, poetiza Sérgio.