Escola da Terra Capixaba é um curso de formação continuada em Educação do Campo que este ano atendeu a 1.700 professores do campo, de salas multisseriadas, em 52 municípios. Foram seis meses de curso, 180 horas e 109 turmas. “O Curso Escola da Terra Capixaba é um grito de socorro dos professores do campo e das comunidades locais. Educação do Campo é direito do povo e é dever do Estado”, conclama Erineu Foerst, um dos coordenadores do programa, que realizará evento nestas terça e quarta-feiras (9 e 10) na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Foerst conta que, no período do governo Fernando Henrique Cardoso, foram fechadas mais de 40 mil escolas do campo no Brasil, pois o poder público entendia que a Educação do Campo custa muito caro para os governos federal, estadual e municipal. Muito dinheiro, no entanto, passou a ser desviado da educação, propriamente dita, para o custeio dos chamados transportes escolares, deslocando crianças pequenas e adolescentes de suas comunidades para as sedes dos municípios, legitimando o desmonte de comunidades inteiras.
“Escola não é somente espaço de leitura e matemática. Ela é a vida das comunidades, porque nela as mulheres promovem ações coletivas, a juventude organiza eventos de música, teatro e cinema, os agricultores familiares se reúnem para discutir estratégias de financiamento, assistência técnica e comercialização da produção da agricultura familiar. A escola é um local de festas comunitárias”, explica o coordenador.
No Espírito Santo o cenário não é diferente do nacional, em que o governador Paulo Hartung, em suas gestões atual e anterior, promoveu um verdadeiro desmonte das escolas do campo. “Este governo criminaliza os educadores campo, quando se organizam para reivindicar educação pública de qualidade para os campesinos, como ocorreu no início deste ano, ocasião em se tratou com total descaso os professores acampados durante mais de 20 dias na Sedu [Secretaria de Estado da Educação]”, denuncia.
Paulo Freire e as comunidades tradicionais
Um dos palestrantes do encontro será o professor Carlos Rodrigues Brandão/Unicamp, que abordará o tema Comunidades Tradicionais e Educação do Campo. Brandão trabalhou com Paulo Freire, tornando-se uma referência no debate nacional sobre Educação Popular. Líderes dos Povos e Comunidades Tradicionais também participarão das palestras e mesas-redondas e das apresentações culturais no início e final da programação dos dois dias.
A programação cultural conta com o Coral Infantil Guarani (Aldeia Três Palmeiras), o Grupo de Congo Tupinikim (Aldeia Irajá), o Boi Graúna (Jacaraípe/Serra), o Grupo de Jongo São Bartolomeu (Conceição da Barra) e o músico Geraldo Friederich, tocador de concertina (Santa Maria de Jetibá).
“Pensar uma educação pautada nos saberes, nos conhecimentos e nos modos de vida próprios de cada povo e cultura é primordial para uma educação que não quer excluir, fragilizar ou impor um outro modo de vida, deixando perderem-se saberes milenares e ancestrais, que são resignificados no cotidiano dessas gentes, em diferentes momentos históricos no Brasil”, afirma Arlete Schubert, professora pesquisadora e organizadora do módulo 2 do Escola da Terra: Culturas, interculturalidade e interdisciplinaridade na educação do campo.
“Entendemos que esses povos e populações tradicionais apresentam alguns aspectos comuns em suas histórias e que não devem ser negligenciados, se queremos reivindicar e propor política públicas que protejam e favoreçam o seu modo de vida e a permanência em seus territórios”, explica Arlete, citando as violências, perseguições e abandonos a que foram submetidos os povos tradicionais, em diferentes períodos da história do Brasil, e que hoje ainda sofrem, com o menosprezo de suas culturas, seus modos de falar, de viver e de ser.
Como exemplo no Espírito Santo, há os pomeranos, que foram abandonados ao chegarem, não conseguindo sequer aprender o idioma português, sendo considerados um “quisto” para o estado; os Tupinikim, que tiveram sua identidade indígena negada por décadas; os quilombolas, que ainda não dispõem da titularidade de suas terras; e os camponeses, que ainda lutam para fazerem valer o seu modo de vida e de produção, numa guerra desigual entre a agricultura familiar e o agronegócio.
“Por isso a importância desse encontro, onde professore/as encontram-se para intercambiar experiências e reflexões a partir das diferentes experiências que compõem suas práticas pedagógicas”, comemora Arlete.
O programa Escola da Terra é realizado pelo Programa de Educação do Campo do Centro de Educação da Ufes, em parceria com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi) do Ministério da Educação); a Secretaria de Estado de Educação do Espírito Santo (Sedu); a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação do Espírito Santo (Undime) e movimentos de base organizados da sociedade civil.
Serviço:
Encontro Estadual do Programa Escola da Terra Capixaba
Data: 9 e 10 de agosto, de 7h30 às 16h00
Local: Teatro Universitário – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), campus Goiabeiras.
Programação completa: https://issuu.com/escoladaterracapixaba/docs/folder_pageflip/1ehttp://www.educacaodocampo.ufes.br/