Levantamento do SAD e MapBiomas contabilizou 6,85 mil hectares perdidos no período em todo o bioma
O Espírito Santo foi o sexto estado com maior número de eventos de desmatamentos da Mata Atlântica em levantamento nacional publicado no terceiro boletim do Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) e consolidado pelo MapBiomas Alerta, referente ao período de agosto a outubro de 2022. O Estado também ficou em nono lugar no ranking de área desmatada, entre os 17 que integram o bioma. Foram 292 eventos, totalizando 506 hectares.
Os municípios listados no estudo são os seguintes, em ordem decrescente de área desmatada, em hectares: Domingos Martins (40); Laranja da Terra 3(9); Ecoporanga (31); Colatina (31); Barra de São Francisco (30); Santa Leopoldina (29); Santa Maria de Jetibá (26); Água Doce do Norte (25); Aracruz (20); Baixo Guandu (19); Mantenópolis (19); Pancas (18); Nova Venécia (16); São Mateus (15); Afonso Cláudio (13); Águia Branca (11); Vila Valério (10); Guarapari (8); Vila Pavão (8); e Ibiraçu (7).
No Espírito Santo, 96,6% dos desmatamentos tiveram a agricultura como vetor. O setor é também o principal motivador dos desflorestamentos na Mata Atlântica em âmbito nacional, correspondendo a 86,4% do total.
Conforme destacou a Fundação SOS Mata Atlântica – uma das entidades que integram a iniciativa MapBiomas, ao lado da Arcplan e o MapBiomas -, a Mata Atlântica, embora protegida pela Lei nº 11.428, conhecida como Lei da Mata Atlântica, que é lar de 72% dos brasileiros e concentra 80% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, segue como o bioma mais ameaçado do Brasil. Entre os meses de agosto e outubro de 2022, foi registrado o desmatamento de mais 6,85 mil hectares (ha) – é como se, no período, uma área de floresta equivalente a 75 campos de futebol fosse desmatada todos os dias.
Os números referentes aos meses de agosto a outubro passados, explica a ONG, foram obtidos a partir de 1,1 mil alertas, abrangendo todo o mapa de aplicação da Lei da Mata Atlântica, do qual fazem parte 17 estados brasileiros.
Só os estados de Minas Gerais e do Piauí somam mais de 43% do total desmatado, respectivamente 1,65 mil e 1,32 ha. Os três municípios com as maiores áreas derrubadas foram Riacho Frio, no Piauí (652 ha), Cristino Castro, também no Piauí (359 ha), e Lassance, em Minas Gerais (336 ha). Nos três casos, a área equivale a um único grande desmatamento.
Segundo Luís Fernando Guedes Pinto, diretor-executivo da SOS Mata Atlântica, os dados confirmam a alta do desmatamento no bioma, em consonância com outros do Brasil, como a Amazônia, onde tem se observado os maiores índices dos últimos 10 anos. Os grandes desmatamentos em área contínua estão relacionados à expansão agropecuária em grande escala, também indicando falhas na fiscalização e combate ao desmatamento, o que marcou 2022 em todo o Brasil.
Desmatamento acumulado em 2022
Os dez primeiros meses de 2022 somam 48,66 mil ha desmatados. Entre janeiro e outubro, Bahia e Minas Gerais aparecem como as unidades da federação que mais desmataram a Mata Atlântica, respectivamente 15,8 mil e 14,3 mil hectares. O Piauí vem em terceiro lugar, com 6,23 mil.
Nos três estados, a maioria das derrubadas foi causada pela agricultura: 73,2% na Bahia, 93,4% em Minas Gerais, e 64,5% no Piauí. Essa também é a realidade em todo o bioma, onde 86,4% da área foi derrubada com a mesma motivação.
Monitoramento detalhado
Um diferencial do SAD Mata Atlântica é seu método, capaz de identificar indícios de desmatamento a partir de 0,3 ha, tornando visíveis focos não detectáveis em outros sistemas, como o Atlas da Mata Atlântica, da parceria entre SOS Mata Atlântica e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que monitora áreas acima de 3 ha. “Como estamos pela primeira vez vendo o desmatamento nesse nível de detalhe, não é possível comparar esses resultados a valores anteriores. Estamos criando uma nova linha de base, que será uma referência para um novo padrão de monitoramento com informações essenciais para entender e planejar a conservação e restauração da Mata Atlântica”, explica Guedes Pinto.
No período, foram registrados um total de 6,37 mil alertas. Mantendo o padrão de desmatamento observado dos boletins anteriores, os desmatamentos entre 0,3 e 3 ha representam 63% do total de ocorrências identificadas. Entretanto, a maior área desmatada (72%) está concentrada em 846 ocorrências com mais de 10 ha.
“Ainda existe espaço para que a fiscalização e a responsabilização tenham um papel fundamental na redução do desmatamento no Bioma”, afirma Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas. “O desestímulo aos pequenos desmatamentos virá quando o proprietário perceber que, agora que os dados são rapidamente identificados e divulgados, deixarão de ser vantajosos, pois implicarão na restrição ao crédito rural e na dificuldade em vender a produção para grandes empresas, que atuam cada vez mais em uma cadeia de fornecedores livres de desmatamento”, complementa.
Metodologia
O SAD Mata Atlântica utiliza uma classificação automática de indícios de desmatamento baseado na comparação entre imagens de satélite Sentinel 2 (dez metros de resolução). Os focos de potencial desmatamento são enviados para o MapBiomas Alerta e então validados, refinados e auditados individualmente em imagens de alta resolução. Cada desmatamento confirmado é cruzado com informações públicas, incluindo as propriedades do Cadastro Ambiental Rural (CAR), embargos e autorizações de desmatamento do Sinaflor/Ibama, para disponibilização em uma plataforma única, aberta e transparente que monitora todo território brasileiro.
O sistema monitora e gera alertas para o bioma Mata Atlântica, conforme o mapa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 1:250.000 de 2019. Este boletim cobre toda área de Aplicação da Lei da Mata Atlântica e considera os desmatamentos validados pelo MapBiomas Alerta, que utiliza outras fontes, como o Deter Cerrado, publicado pelo INPE, e o SAD Caatinga, produzido pela Geodatin/UEFS. Esses sistemas são essenciais para garantir o monitoramento dos encraves de da Mata Atlântica, protegidos pela Lei da Mata Atlântica, que estão nos biomas Cerrado e Caatinga. São considerados os desmatamentos no mapa de aplicação da Lei da Mata Atlântica refinado pela SOS Mata Atlântica usando o mapa de vegetação do RADAM 1:1.000.000.
As informações vêm sido disponibilizadas mensalmente na plataforma MapBiomas Alerta e os resultados são reunidos em boletins periódicos publicados pela Fundação SOS Mata Atlântica. Os encraves da Mata Atlântica nos outros biomas são monitorados pelo MapBiomas Alerta, utilizando fontes adicionais. O trabalho tem apoio da Flex Foundation e do Fundo Canadá para Iniciativas Locais.