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Estado criminaliza protesto de moradores da Barra do Jucu no Palácio Anchieta

Fotos: Leonardo Sá/Porã
 
O Batalhão de Trânsito da Polícia Militar apreendeu veículos e multou motoristas que realizaram um ato de protesto nesta quinta-feira (27) na escadaria do Palácio Anchieta, sede do governo estadual. No ato-relâmpago, que durou vinte minutos, moradores da Barra do Jucu, em Vila Velha, jogaram peixes em estado de decomposição na escadaria, numa alusão à poluição e à maior mortandade de peixes já registrada na foz do Rio Jucu, no último final de semana (22 e 23).

Cinco dias após a tragédia, muitos corpos continuavam na praia, apesar do início do trabalho de limpeza pela prefeitura, exalando forte cheiro de putrefação. Até a segunda-feira (24), ainda havia pessoas levando os peixes contaminados para casa. Só neste ano, é a segunda vez que se registra muitos peixes mortos boiando no rio.

Um dos realizadores do ato no Palácio foi Thiago Emerick, integrante do Movimento Culturada Viral, da Barra do Jucu, se mostrou surpreso com a atitude da Polícia Militar de criminalização do protesto. Os participantes foram indiciados em dois crimes: estacionamento em local proibido e lançamento de dejetos em via pública. “Como se não fosse crime matar o Rio Jucu”, indigna-se. “A Polícia já chegou multando”, reclamam outros manifestantes.

Apesar da agressividade estatal, Thiago relata que o ato foi considerado satisfatório, pois objetivo era fazer a população “sentir um pouco do nosso drama”. “Foi um ato de desespero”, conta o ativista.

A comunidade ainda não recebeu nenhum laudo oficial sobre a mortandade. “Não sabemos o nível de contaminação do mar e do rio”. O que os moradores reivindicam é o saneamento básico das localidades ao longo do Rio Jucu (que abastece todo o município de Vila Velha, a parte insular de Vitória e parte de Cariacica), bem como a recuperação nas nascentes e matas ciliares.

Os moradores denunciam há anos a omissão do poder público em relação aos recursos hídricos do Estado, por governantes pelo menos das últimas três décadas, com atos de conscientização e reivindicação de providências, como a Descida Ecológica do Rio Jucu. A edição do ano passado foi inclusive cancelada devido à contaminação por coliformes fecais 160 vezes acima do limite considerado satisfatório pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), o que representaria riscos aos participantes.

Também em 2015, a comunidade realizou um cortejo fúnebre, seguido de abaixo-assinado, municiando o Ministério Público a ajuizar uma ação determinando a cobrança pelo uso da água e a utilização dos recursos na recuperação do Rio Jucu, porém, sem providências. As ações são realizadas pelo Movimento Culturada Viral, criado a partir da mobilização dos moradores da Barra do Jucu.

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