O Espírito Santo produz 180 toneladas diárias de resíduos alimentícios de origem animal e vegetal. O emprego de tecnologia patenteada no mês passado permite transformar este material em ração animal em quantidade suficiente para tratar por um mês 60 mil suínos na fase de engorda, que antecede o abate.
Luiz Claudio de Oliveira, do Centro de Educação, Pesquisas e Projetos Sustentáveis (CEPPES), é o titular da patente BR 10.2015.015768.1, de 29 de junho deste ano, emitida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
A patente é da tecnologia de produção da Ração de Resíduos de Produtos Alimentícios (RRPA), que substitui a chamada Raça Tradicional Sólida (RTS) na nutrição animal.
O Ceppes tem sede na Foz do Iguaçu, no Paraná. A matéria-prima que usa é o descartado por hotéis, restaurantes, shoppings, Ceasa, feiras, indústrias alimentícias, pela população. E vai parar como lixo em aterros sanitários.
Tecnologia verde
A patente é verde, destaca o químico Luiz Claudio de Oliveira, que é doutorando em engenharia de produção na Universidade Paulista (Unip). Explicou o processo da RRPA, com a participação de Leopoldino Vieira Neto, engenheiro de produção e doutorado na Universidade Aberta de Israel. Apontou os ganhos econômicos e ambientais produzidos com a tecnologia.
Luiz Claudio de Oliveira informou que busca parceria para, no Espírito Santo, construir o que chama de laboratório de experimento. Um projeto que exige investimento de aproximadamente R$ 200 mil, e uma área de 2 mil metros quadrados. No espaço, podem ser colocados 30 suínos, alimentados durante 45 dias na fase que antecede o abate.
Ele vislumbra não só a possibilidade de parceria com centros acadêmicos do Estado, como participação de prefeituras e órgãos de financiamento, como o Banco de Desenvolvimento do Estado (Bandes). Um dos contatos, informou, é com a Associação dos Suinocultores do Espírito Santo (Ases).
Uma das áreas como potencial para um projeto deste tipo, aponta, é a região de montanha do Estado. O laboratório faria todos os testes necessários com o RRPA, comparando os resultados com o emprego também de outros alimentos usuais, como o milho e a soja.
O processamento
Cada pessoa produz diariamente um total de 1,08 quilo de resíduos, dos quais 50% resíduos de alimentos de origem animal e vegetal, formado entre outros, por proteínas e micronutrientes, explicam. São resíduos que na maioria dos municípios vai parar diretamente em aterros sanitários, como o produzido em Vitória e outros municípios, ou em lixões.
A estimativa de Luiz Claudio de Oliveira é que no Espírito Santo seja produzido cerca de 180 toneladas diárias de resíduos alimentícios de origem animal e vegetal, o que em suas contas é suficiente para produzir a alimentação de 60 mil suínos por mês, na fase da engorda dos animais.
De cada quilo de resíduo alimentício jogado fora, são perdidas 300 gramas de proteína e 1.500 quilocalorias. Na fase de terminação da engorda do suíno, entre 111 e 156 dias de vida do animal, ele consome três quilos de alimentos e dez litros de água diariamente.
O lixo alimentar produzido no Espírito Santo, ainda na conta de Luiz Claudio de Oliveira e Leopoldino Vieira Neto, pode ser processado em quatro plantas industriais. O investimento por planta é estimado em R$ 4,5 milhões. Cada projeto deste porte gera R$ 1,44 milhões por ano para o município, calcula o químico.
Hoje, ainda segundo Luiz Claudio de Oliveira, são abatidos no Espírito Santo cerca de 25 mil suínos, mensalmente. O restante da demanda é atendida pelo sul do país.
O proprietário do Ceppes não tem dúvida de que se trata de um projeto atraente. Cada 50 gramas de arroz tem cerca de 5 gramas de proteína, informa como exemplo. A tecnologia da RRPA não utiliza nem a soja, nem o milho, dois produtos com preço elevado no mercado, o que torna cara a produção animal. Produz certa resistência, pois milho e soja são produtos usualmente usados na ração.
Na preparação da RRPA, o resíduo alimentar passa por aquecimento a 90º Celsius por 60 minutos, com movimentação do material. Esta é uma exigência legal para evitar a Peste Suína Clássica (PSC). Também mata outros microorganismo que causam doenças.
O produto, com formulações diferenciada, pode ser usado tanto para o tratamento de suínos, como de aves, peixes e bovinos.
Ganho ambiental
O proprietário do Ceppes aponta o ganho ambiental da tecnologia que patenteou. Além do alimento para os animais, uma granja que empregue sua técnica gera energia pela biomassa produzida, e o restante é transformado em fertilizante. Não perde nada.
“Não há passivo ambiental para produção do RRPA”, sentencia Luiz Claudio de Oliveira. Ele estima com o que o que é jogado fora como lixo no Espírito Santo, pode-se produzir alimentos para animais a um custo 25% menor do que é atualmente gasto, principalmente pela exclusão da soja e do milho da alimentação produzida.
Destaca ainda que o material empregado é de aço inox, e não alumínio, o que é outro diferencial. A pesquisa da alimentação animal com a tecnologia durou aproximadamente 20 anos.
Luiz Claudio de Oliveira sintetiza: “O processamento e aproveitamento energéticos e nutricional dos resíduos de produtos alimentícios de origem animal e vegetal como alternativa correta e sustentável reduzem a concorrência alimentar e nutricional humana e animal (milho e soja), concomitantemente à transformação de subprodutos em biogás, calor, energia elétrica, biofertilizantes, reduz e/ou elimina a dependência de recursos naturais nos processos de produção na suinocultura, bovinocultura, avicultura, piscicultura e agricultura sustentável”.