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Expansão da agricultura urbana promove quebra positiva de paradigma

Ruca e Fase se unem em edital para apoiar hortas comunitárias na periferia da Grande Vitória

Horta Comunitária Quintal da Cidade

“É uma quebra total de paradigma!”, afirma o engenheiro agrônomo, professor, educador e assessor técnico em hortas comunitárias Dauro Brício Junior, ao comentar sobre a atual empreitada na missão de difundir a agroecologia urbana nno Espírito Santo: o edital da Rede Urbana Capixaba de Agroecologia (Ruca) e da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase) para apoiar um projeto de horta comunitária em funcionamento na periferia da Grande Vitória.

“As pessoas estão num processo de individualismo, cada um por si, e ao mesmo tempo ficam esperando que o poder público resolva tudo. A horta comunitária é o contrário, estimula a cooperação e o ‘faça você mesmo'”, comenta Dauro, para quem a mobilização da sociedade civil em torno dos plantios urbanos “é uma vitória”, pois estimula a “humanização da cidade, a ocupação dos espaços urbanos, a saúde, a segurança alimentar e até a geração de renda”.


Duas iniciativas já foram selecionadas  o projeto comunitário de plantio e meliponário no Morro do Cabral/Santa Tereza  e a horta Jardim da Capixaba, no Morro da Capixaba, ambas em Vitória. Para a definição do terceiro projeto, o edital está com inscrições abertas até a próxima segunda-feira (15)

Os três projetos irão receber assistência técnica popular, por meio de três visitas técnicas com realização de mutirões, além de apoio para a compra de insumos e materiais necessários para melhorar o trabalho.

Participante do movimento de agroecologia urbana capixaba desde 2016, quando da criação da primeira iniciativa popular nesse sentido, a Horta Comunitária Quintal na Cidade, no centro de Vitória, Daurio comemora a união da Ruca e da Fase nesse edital, pois objetiva apoiar grupos localizados na periferia, que sempre foi seu objetivo.

O trabalho, enfatiza, faz um “resgate de uma cultura que está se perdendo”. “Nos tempos dos nossos avós, tinha frutas nos quintais. As cidades foram crescendo e os espaços foram diminuindo, os quintais sendo cimentados, os ‘puxadinhos’ sendo erguidos. Quem mora nos bairros tinha horta e agora não tem mais. Está sendo um resgate de uma cultura tradicional”, observa.

“Trabalhar na horta é pura educação ambiental”, sublinha. “Separar o lixo, fazer reaproveitamento das coisas. Nas hortas urbanas, a gente faz muito reaproveitamento, na compostagem, na produção de mudas, na contenção de canteiros”, exemplifica. Para o ativista, a expansão das hortas urbanas tem se intensificado, com pessoas vendo espaços para cultivar seu alimento no quintal, nos apartamentos, em terrenos públicos ou privados.

Uma das idealizadoras da Horta Comunitária Quintal na Cidade e contemporânea de Dauro no início do movimento, em 2016, Duda Bimbatto observa que o distanciamento social exigido pela pandemia tem feito essas iniciativas cresceram ainda mais. “Muita gente está colocando a mão na terra, plantando, mesmo em apartamento. As lojas de insumos também relatam esse aumento da procura. As pessoas descobriram o poder terapêutico de mexer com a terra, a possibilidade de cultivar seu alimento, nem que seja um tempero verde. Descobriram que é simples e produz resultados fantásticos, pra saúde física e mental e é uma economia, também”.
Esse comportamento mostra que a Ruca está atingindo seus objetivos, de “instigar e apoiar a expansão dos cultivos na cidade”. O incentivo prestado pelo edital, mesmo que simples, “não resolve tudo, mas é um grande passo”, afirma, recordando como foi importante ter um apoio semelhante no início do Quintal na Cidade, com um curso oferecido pela Prefeitura de Vitória, com a médica Henriqueta Sacramento. “Éramos eu, meu marido e mais um casal. Não tínhamos experiência com plantio, e a possibilidade de fazer um curso inicial ampliou horizontes e agregou pessoas”, conta.

O cenário atual, acentua Duda, é também uma chamada para o poder público participar mais desse processo, com políticas públicas que correspondam à imensa demanda da sociedade. “Se a Ruca, que é pequena, sem recurso, consegue fazer isso com apoio da Fase, o que um Incaper [Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural], uma Seag [Secretaria de Estado da Agricultura] podem fazer? Instituições que possuem recursos próprios podem e devem ajudar muito”, convoca.

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