“Destrói toda a biodiversidade”, lamenta ambientalista. Projeto que cria Parque Natural pode ser votado em agosto
Um incêndio registrado nesse domingo (16) consumiu mais de 250 mil metros quadrados de vegetação da Lagoa Encantada, em Vila Velha. A estimativa é do Instituto Lagoa Encantada (Desea), que realiza há uma década trabalhos de educação, proteção e recuperação ambiental na região e encabeça a luta pela transformação do belo refúgio canela-verde em um Parque Natural Municipal.
Membro do Instituto, o fotógrafo de natureza Wilerman da Silva Lucio descreve com pesar as consequências do incêndio para a natureza que busca abrigo no local. “Queimou todo o taboal da parte principal da lagoa. Quem conhece taboal sabe a quantidade de espécies que tem ali e como os animais têm dificuldade de se salvar”.
“O próprio Corpo de Bombeiros tem medo de entrar em taboal, porque pode ficar preso. Imagina a quantidade de capivara, jacaré, que está ali dentro e não consegue fugir do fogo! Cobras, filhotes de aves das mais diversas! Insetos, que a gente nem registrou ainda! Lontras, cágados, sapos, rãs, pererecas…alguns animais do entorno que são intoxicados pela fumaça…preás, cachorros-do-mato, saguis, micos…é muita coisa”, lamenta.
Wilerman e outros ambientalistas ligados ao Instituto e outros coletivos socioambientais que atuam em Vila Velha registraram, de seus respectivos locais, as imagens do incêndio, que, acredita-se, se iniciou à tarde no bairro Jardim Marilândia. À noite, imagens ainda eram compartilhadas nas redes sociais vindas de pontos distantes como o Morro do Cruzeiro, em Brisamar, Vila Velha, e Boa Vista, em Cariacica.
“Parece que foi criminoso, como foram os anteriores. Você vê tudo esquematizado para o vento levar o fogo para bem longe”, observa Wilerman. E o período seco de inverno, ressalta, é mais um agravante. “A previsão é de entrar o El Niño, e aí vamos ter um outro 2016, com muita seca e muita queimada. Só Deus!”, alerta. “Você destrói toda a biodiversidade, os animais, as plantas. E para recuperar é muito difícil. A gente faz um trabalho de recuperação há nove anos. É muita areia, solo muito ácido. É muito difícil”.
Durante a tarde de domingo, a Guarda Municipal de Vila Velha foi ao local do incêndio a pedido de moradores. Em nota, a prefeitura relatou que a equipe enviada é da Inspetoria Ambiental, “no entanto, o equipamento que a GMVV possui é para pequenos incêndios. O Corpo de Bombeiros foi acionado”.
Já os Bombeiros, também em nota, informaram que “a equipe esteve no local [no domingo à tarde] e realizou o combate e extinção das chamas, sem feridos ou edificação atingida” e que “novos acionamentos” não foram feitos nesta segunda-feira (17).
Wilerman critica a falta de presteza dos Bombeiros em lidar com incêndios em áreas ambientais. “Infelizmente, a gente liga para o Corpo de Bombeiros e eles mais observam se não vai espalhar para outros lugares. Se for para as empresas, eles correm, mas enquanto estiver queimando ‘só’ mato, parece que não tem problema. O patrimônio ambiental que a gente tem, não importa”, diz, considerando não somente a ação desse domingo, mas todo um histórico em outras regiões ambientalmente sensíveis.
“O Parque Paulo Cesar Vinha queimou completamente!”, destaca, referindo-se ao incêndio que destruiu 555 hectares (5,55 milhões de m²), o equivalente a 37% da área, durante um mês e meio, entre setembro e outubro do ano passado, e que, segundo conclusões dos Bombeiros e do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), que administra o parque, foi causado por ação humana.
“Não tem um sistema de combate a incêndios, mesmo em unidades de conservação já constituídas! Passou da hora de Vila Velha, do Espírito Santo ter estrutura para combater incêndios ambientais. Ainda mais agora com o aquecimento global e com o El Niño chegando”, reivindica. “Isso vai se repetir e a gente não tem como controlar. A gente aqui no Instituto, o que pode fazer, é estudar como pode ajudar. Não temos equipamentos, estrutura, mas podemos talvez pelo menos cercar o fogo em determinados pontos para não alastrar e queimar tudo. Apesar de que, os incendiários colocam fogo em vários pontos, para dificultar o trabalho mesmo. É muito difícil”, suplica.
Sobre a criação do Parque Natural Municipal da Lagoa Encantada, a Prefeitura de Vila Velha afirmou que “técnicos da Secretaria de Meio Ambiente estão efetuando revisões finais no Projeto de Lei que será encaminhado à Câmara Municipal, para apreciação dos nobres vereadores, assim que finalizar o recesso legislativo, em agosto”.