O governador Paulo Hartung (PMDB) fez questão de prestigiar, na última terça-feira (6), a homenagem ao empresário norueguês Erling Sven Lorentzen, que destruiu 50 mil hectares da mata atlântica e toda sua biodiversidade no Espírito Santo para plantar eucalipto, matéria-prima para a celulose. A homenagem foi realizada no 48º Congresso e Exposição Internacional de Celulose e Papel, em São Paulo.
Hartung anunciou sua participação no evento em suas redes sociais. Referindo ao empresário como “Seu Lorentz”, destacou a “bonita homenagem”, lembrando que o empresário chegou ao Brasil na década de 50 e “contribuiu para o nascimento dessa indústria que, atualmente, gera divisas significativas aos cofres públicos e mais de 700 mil empregos diretos e indiretos”. Segundo o governador, “há alguns anos, ‘Seu Lorentz’ trabalha para o desenvolvimento do turismo na região das montanhas capixabas”.
Hartung e Lorentezen, de fato, têm uma relação de longa data, que até hoje rende frutos. A homenagem ao empresário ocorre poucos dias depois de a Assembleia Legislativa aprovar projeto do governo que favorece a expansão dos plantios de eucalipto no Espírito Santo. As principais beneficiadas são a Aracruz Celulose (Fibria), projeto idealizado por Lorentzen, e a Suzano Papel e Celulose, empresas que estão na lista de principais doadoras de campanha da classe política capixaba, principalmente do governador.
O 48º Congresso e Exposição Internacional de Celulose e Papel conta uma história do empresário norueguês que ignora o processo de implantação da Aracruz no norte do Estado. A empresa expulsou das terras tradicionais índios, quilombolas e camponeses, com favores da ditadura militar e dos órgãos estaduais e federais da época. Os processos foram marcados por episódios de violência, terrorismo e ameaças.
Para financiar suas plantas industriais, a Aracruz contou com dinheiro público, por meio do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O banco empresta a juros subsidiários, quase doações, à empresa.
Além de destruir a mata atlântica, Lorentzen também lançou dioxinas – que são cancerígenas – no mar, a partir de suas usinas em Aracruz, sem nenhum tratamento.
As atividades da Aracruz Celulose (Fibria) começaram no campo pelo Espírito Santo, em novembro de 1967, quando foram plantados os primeiros eucaliptais da empresa. Hoje seus plantios de eucalipto são estimados em 350 hectares, sem contar com os plantios de camponeses que aderiram à monocultura. Tem três usinas no Espírito Santo, no município de Aracruz, norte do Estado.
A empresa é alvo de processos judiciais que visam a devolver o território explorado há décadas aos seus verdadeiros donos, bem como indenizá-los e impedir novos plantios de eucalipto.