O governo Paulo Hartung (PMDB) tentou esvaziar, na tarde desta sexta-feira (11), a ocupação realizada há 25 dias na Secretaria de Estado da Educação (Sedu) em Vitória. Policiais militares foram deslocados para o local, onde impediam a entrada de professores, entidades, apoiadores e até da imprensa. Após muita pressão, os portões foram novamente abertos, mas ainda há temor do uso de força para pôr fim ao acampamento Paulo Freire, criado como resistência às tentativas da gestão estadual de fechar as escolas do campo.
A estratégia ocorreu no mesmo momento em que o secretário de Educação, Haroldo Rocha, tinha reunião marcada com as lideranças, porém, em outro prédio, na Praia do Canto. Lideranças afirmam que o secretário também impôs dificuldades em relação à definição de quem irá para a mesa de debate.
A estratégia do governo ficou evidente quando os funcionários da Sedu foram dispensados no início da tarde desta sexta. A justificativa para fechar as portas e, assim, impedir o fortalecimento da luta, foi exatamente o fim do expediente, encerrado bem antes do convencional.
A gestão estadual aproveitou o momento em que a ocupação registrava menor número de militantes, em decorrência do deslocamento do grupo para a Superintendência na Praia do Canto, onde ocorre a reunião com o secretário.
Os movimentos sociais estão em alerta para uma possível ação policial após a negociação, que começou com atraso, depois das 16 horas.
Após mais de dez horas de ocupação pacífica no Palácio Anchieta nessa terça-feira (16), Dia Internacional da Mulher, o governo do Estado iniciou um movimento de criminalização da luta dos camponeses, que tentam desde o ano passado uma audiência com o governador para debater a pauta no campo, sem sucesso.
Embora as reivindicações tenham se iniciado bem antes da condução coercitiva do ex-presidente Lula há uma semana, a gestão estadual utilizou a mídia corporativa para atrelar a mobilização aos últimos acontecimentos políticos nacionais e, assim, evitar desgastes à imagem do governador, conhecido por posição avessa ao diálogo com os movimentos sociais.
Somente com a ocupação os camponeses conseguiram a agenda com o secretário Haroldo nesta sexta e com o governador no próximo dia 28, às 14 horas, no Palácio Anchieta.
O principal ponto da pauta se refere às ações do governo Hartung para fechar as escolas dos assentamentos e acabar com a pedagogia da alternância, responsável por manter os jovens no meio rural. Essa metodologia intercala um período de convivência na sala de aula com outro no campo, no entanto, o governo se mantém irredutível a pagar somente a hora/aula de cada educador, sem contabilizar o tempo de acompanhamento no campo e na auto-organização dos estudantes.
Os movimentos sociais cobram ainda a aprovação das diretrizes das escolas de assentamentos e acampamentos; não fechamento de turmas, turnos e escolas do campo e da cidade; garantia de acesso, permanência, continuidade e qualidade social da educação básica; e editais específicos para a contratação de profissionais de educação efetivos e em regime de Designação Temporária para as escolas do campo.
Em outras áreas, a assinatura de decreto de emergência do Estado em função da seca; construção imediata das barragens; assistência técnica, social e ambiental para todas as famílias assentadas; levantamento e destino das áreas devolutas do Estado para fins de reforma agrária; aquisição de áreas penhoradas nos agentes financeiros e destinação para reforma agrária; punição da Samarco, Vale e BHP por crime ambiental; e medidas contra a expansão dos plantios de eucalipto no Espírito Santo.