“Ecos da Terra”, de Ursula Dart, aborda a agroecologia a partir de oito mulheres de norte a sul do Espírito Santo
Oito mulheres e suas histórias de cuidado com a terra. Com lançamento online nesta segunda-feira (25), Dia Internacional da Agricultura Familiar, o documentário Ecos da Terra percorre 2 mil quilômetros pelo Espírito Santo para ouvir vozes femininas de quem constrói a agroecologia. Para assistir, é necessário preencher um formulário com suas informações, incluindo um e-mail para onde será enviado o acesso ao filme.
A obra mostra o cotidiano e os motivos que as levaram a optar pela produção de forma natural, sem uso de agrotóxicos. Trata-se de um retrato diverso, de mulheres de várias regiões do Estado, incluindo quilombola, pomerana, sem-terra e agricultoras familiares. Participaram as agricultoras capixabas Ana Flavia Luck, Erenilda Luzia Schuina Ferreira Guio, Flavia dos Santos, Maria José Gonçalves Luck, Joselma Maria Pereira, Josiane de Abreu Machado, Marijane Luck e Selene Hammer Tesch.
No início, a ideia era trabalhar com agricultores orgânicos de modo geral, mas ao longo da pesquisa para preparar o filme, a equipe acabou vendo a necessidade de ampliar o olhar para a agroecologia e, a partir daí, focar na atuação das mulheres. “É importante colocar as mulheres na cena. A agroecologia está muito nas mãos das mulheres, porque realmente é uma relação de cuidado com a terra, totalmente inversa da ideia do monocultivo. Envolve diálogo, conversa, conhecer a terra, trocar informações, sementes, cuidados diários”, diz Ursula Dart, diretora da obra, realizada com recursos do Fundo Estadual de Cultura.
Para a cineasta, algo em comum entre elas é a relação de respeito que têm em relação à terra. Além disso, a obra revela não só sobre essas mulheres, mas também sobre o Espírito Santo, que é percorrido em longas distâncias para realização do documentário. “É sempre interessante perceber onde estão essas propriedades. Muitas vezes estão situadas em lugares cercados de pastos e monocultivos. É um retrato do Espírito Santo que não é diferente de outros estados brasileiros”.
Outro fator evidenciado na obra é o desmonte das políticas públicas para a agroecologia nos últimos anos, especialmente por parte do governo federal, que acabam impactando diretamente no trabalho e na vida dessas mulheres e de alguma maneira na de todos nós, desde os que produzem alimentos até os que consomem em diversos territórios.
Aliás, foi justamente a preocupação sobre a alimentação de seu filho que impulsionou Ursula Dart a iniciar as pesquisas que daria origem ao documentário, que possui 50 minutos de duração e foi produzido tendo como foco principal de exibição a televisão.
O filme ainda possui uma trilha sonora original homônima, composta por Marcus Neves e interpretada pelas cantoras Claudia Zanetti e Dyo Arruda, com batidas de André Akira.
Sobre as mulheres de Ecos da Terra
Selene Hammer Tesch | Santa Maria de Jetibá – “Não matarás”, dizia o sexto mandamento. Foi assim que Selene, há mais de 30 anos, decidiu banir o uso dos agrotóxicos e começou a plantar comida de verdade. Hoje, a barraca da Selene na feira é cheia de flores e ervas medicinais. Esse é o carro chefe do sítio dela, inclusive, com mais de 400 espécies de ervas medicinais catalogadas. Dentre os títulos que coleciona, a capixaba, em 2017, foi embaixadora da ONU na campanha “#MulheresRurais, mulheres com direitos”, representando o sudeste brasileiro.
Erenilda Luzia Schuina Ferreira Guio | Iconha – Presente nas feiras orgânicas da Grande Vitória, a Vero Sapore se une a outras famílias para estar presente em todas elas. Nas barracas, diversas frutas e itens da agroindústria, como pães, bolos e biscoitos. Essa parceria entre as famílias funciona há mais de 20 anos, sempre com uma busca para entender a necessidade do consumidor. Na lavoura, lá em Iconha, apenas práticas sem agrotóxicos ou insumos artificiais.
Família Luck – Ana Flávia, Maria José, Marijane | Vila Valério – Numa região cercada pelas monoculturas do café e do pasto, o sítio Boa Sorte forma uma ilha verde com o cultivo de hortaliças sem agrotóxicos. Esse recinto verde surgiu quando anos atrás, em contato com o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Dona Zezé decidiu arrancar todos os pés de café da propriedade e plantar comida de verdade.
Joselma Maria Pereira | Santa Teresa – Mesmo numa região considerada seca, devido às montanhas da região que impedem a chegada da umidade, o assentamento Vale da Esperança do MST mostra que é possível produzir comida de verdade. Nossa personagem, Joselma, formou-se assistente social e atuou em outros campos da luta política pela terra antes de optar pela agricultura junto ao marido, produzindo comida de verdade e sem veneno.
Flavia dos Santos | São Mateus – O território quilombola Sapê do Norte com mais de trinta famílias luta contra a monocultura do eucalipto para se manter em suas terras e produzir alimentos de qualidade. Enfrentando as dificuldades trazidas pelo deserto verde e resgatando essa ligação ancestral com a terra – de mais de 300 anos de história, Flavia produz alimentos orgânicos para entregar em escolas e “planta água” para manter as nascentes da região.
Josiane de Abreu Machado | Alegre – Na comunidade Feliz Lembrança, no Caparaó capixaba, um grupo de pequenos agricultores agroecológicos conseguiu fazer o caminho inverso e, ao invés do êxodo rural, tem trazido os jovens de volta para o campo, com a proposta de produzir frutas, verduras, café, mel e uma agroindústria coletiva de doces, geleias e outras delícias saudáveis.