“Nem Um Poço a Mais!” – um grito de luta que dá nome a uma campanha encampada por dezenas de organizações brasileiras que representam povos, comunidades e territórios impactados diretamente pelo petróleo. Quando ela teve início, em 2012, parecia algo demasiado utópico e distante da realidade, mas, passados sete anos, o clamor pelo fim da expansão da indústria petroleira é defendido por um número cada vez maior de pessoas e entidades.
“Infelizmente, vai ficando cada vez mais na pele que os afetados pelo petróleo não são apenas as pessoas de onde se extrai o petróleo. Elas são sim expropriadas e convivem com a contaminação diariamente, mas o metabolismo petroleiro é rizomático e democrático. Desde o estudo dos poços com as sísmicas, depois a extração, o processamento, o transporte, o uso e o descarte geram muitos problemas para todas as pessoas e os ecossistemas”, explana Fabíola Melca, educadora da Federação dos Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), uma das entidades a encabeçar a articulação Nem Um Poço a Mais.
Uma das ações da Campanha é o evento anual Semana Sem Petróleo, que faz sua terceira edição em 2019, de 10 a 17 de novembro. Sempre ampliando sua extensão territorial, este ano a Semana terá atividades no Caparaó, em Cachoeiro de Itapemirim, litoral sul e Grande Vitória, além de um Viradão Antipetroleiro no canal de youtube Áreas Livres de Petróleo, que abre a programação neste domingo (10).
O Viradão acontece de 10h às 22h, com vídeos apresentados por diversos parceiros da Campanha nos principais estados de articulação – Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Ceará – além de pessoas de fóruns e redes de apoio às comunidades impactadas pelo petróleo, de acadêmicos, movimentos sociais, profissionais da comunicação e da arte.
“A Semana estava sendo articulada antes do óleo no mar. Quando ele apareceu, a gente precisava responder a uma expectativa dos parceiros nacionais, principalmente de regiões onde a campanha já se articula e onde o óleo já chegou ou deve chegar”, conta Fabíola. “A gente tem propostas de atividades presenciais, mas entendeu que um grupo online, nesse momento, possibilitaria vozes e olhares diferentes e perspectivas diferentes também”, explica.
Em seguida, de segunda a (11) até domingo (17), a programação segue com rodas de conversa, intercâmbios de experiências, oficinas, vivência, feira livre, contação de histórias, sarau, exibição de documentário, leitura dramática, Ghost Bike. Atividades que abordam a petrodependência e caminhos para a construção de sociedade pós-petroleira.
No Espírito Santo, esse debate sobre os impactos e as alternativas ao petróleo é de extrema importância. O Estado alterna a segunda e terceira posição no ranking nacional de produção de óleo e gás e ganhou destaque desde a descoberta do pré-sal no litoral sul. Nessa esteira de produtividade crescente, projetos de empreendimentos portuários também proliferam, loteando a costa capixaba de norte a sul, trazendo verdadeiro pânico entre as comunidades costeiras e pescadores tradicionais, que há anos lutam por seu território de pesca artesanal, ainda sem sucesso.
“O pré-sal, como o fracking, explica Fabíola, é uma energia extrema, de alta profundidade e de alto impacto, procurada quando os poços em terra e superficiais vão ficando inviáveis economicamente, por exaustão da produção. “Pra manter a sociedade petroleira, é preciso ir mais fundo, com tecnologias mais elaboradas”, acentua. “Está ficando cada dia mais claro que não existe uma segurança real, uma garantia que não haverá acidente. E, havendo o acidente, o que fazer? O governo levou 40 dias pra começar um plano de contingenciamento no caso do óleo no mar”, desnuda a educadora.
O grito de Nem Um Poço a Mais ecoa com força cada vez maior e encontra em eventos como a Semana Sem Petróleo, momentos privilegiados de potencialização. “Reflexão, fortalecimento da rede, estudos comuns, interconexão, pensar estratégias, articulações, trocas de experiências, propostas e projetos”, elenca. Alternativas existem, só precisamos acreditar nelas e fazê-las crescer no nosso cotidiano.