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Ilha de preservação ambiental e lazer de Cachoeiro está abandonada

Espaço doado ao poder público em 1988 teve visitação turística no passado, mas está fechado

Lucas Schuina

A Ilha do Meirelles, patrimônio ambiental e espaço de lazer e turismo de Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Espírito Santo, está abandonada há anos. Até recentemente, ainda era possível visitar o espaço, cujo acesso se dava por uma ponte de madeira em estado precário. Atualmente, nem isso: os fios de sustentação de um dos lados da ponte se romperam e o acesso foi bloqueado.

Localizado no bairro Elpídio Volpini (Valão), a cerca de quatro quilômetros do centro da cidade, a Ilha do Meireles é a maior ilha fluvial do rio Itapemirim, com 9,6 hectares, abrigando milhares de espécies da fauna e flora da Mata Atlântica. O espaço recebe o nome de seu antigo dono, Newton Meirelles, que doou o terreno à Prefeitura de Cachoeiro em 1988.

Entre as instalações do espaço estão banheiros, deque e um anfiteatro. Como o acesso está bloqueado, não é possível verificar o atual estágio das edificações, mas já não havia manutenção regular há praticamente dez anos e as estruturas encontravam-se danificadas e tomadas pela vegetação. A intenção da gestão do prefeito Victor Coelho (PSB) era retirar as edificações do local.

Entre 2002 e 2013, a Ilha do Meirelles foi administrada pelo Centro Universitário São Camilo, instituição particular de ensino superior do município, que transformou o espaço em uma estação ecológica e desenvolveu projetos científicos e socioambientais, incluindo visitação de escolas. Entretanto, alegando que a Prefeitura de Cachoeiro não cumpria com o seu papel de dar manutenção ao acesso da ilha, devolveu o espaço ao poder público e o contrato foi rescindido.

Em 2018, no primeiro mandato de Victor Coelho, foi publicada a Lei 7.463, na qual a prefeitura retomou sua responsabilidade pela gestão da Estação de Proteção e Educação Ambiental Ilha do Meirelles.

De acordo com a normativa, o poder público municipal deveria “zelar pela manutenção do espaço, edificações, equipamentos e ponte de acesso; pela preservação ambiental permanente de sua fauna e flora, a sua recuperação, além de exercer a vigilância e fiscalização do local, e criar condições para que a atual e as futuras Administrações e seus gestores atuem em prol das finalidades desta Lei, sob pena de anulação da doação”.

Desde então, porém, nenhum projeto de recuperação do espaço foi realizado. Ao contrário: a Prefeitura de Cachoeiro tem alegado que a Ilha do Meirelles tem alta vulnerabilidade a enchentes e não pretende retomar as visitações.

Apesar disso, a Ilha ainda é lembrada como um espaço de lazer que deveria ter suas funções originais retomadas. “Ótimo pra passear. Pena que o lugar agora está abandonado”, diz uma usuária em avaliação publicada na internet.

Alguns ônibus do sistema de transporte coletivo de Cachoeiro também apresentam uma plotagem divulgando a Ilha do Meirelles como um ponto turístico cachoeirense, mesmo que o espaço não esteja aberto à visitação.

Lucas Schuina

 Meirelles e a Ilha

O carioca Newton Meirelles chegou ao Espírito Santo em 1934, aos 29 anos, para trabalhar no Banco do Brasil, e foi transferido para Cachoeiro em 1939. No município, tornou-se uma figura ativa nos movimentos sociais e políticos, tendo participado de diversas greves. Foi filiado ao Partido Socialista Democrático (PSB) e ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), e ocupou uma vaga de vereador, em 1947.

Casado com Carmem Vieira Meirelles, Newton não teve filhos, e por isso fez a doação do espaço em que morava para a Prefeitura de Cachoeiro, um ano antes de sua morte, em 1989, com a esperança de que fosse preservado para a realização de ações de cunho socioambiental. A Ilha do Meirelles foi tombada como patrimônio natural pela Lei 5.484, de 2003.

Arquivo/Higner Mansur

A gestão do prefeito Victor Coelho teria dado início a procedimentos para a transferência da área para o Governo do Estado, mas lei de 2018 sobre a gestão da estação ambiental permanece em vigor.

Outros espaços

Além da Ilha do Meirelles, outros espaços de cultura e lazer de Cachoeiro estão inutilizados. No Parque Urbano da Ilha da Luz, as obras estão paralisadas desde o ano passado e o local acumula entulho. O portão de acesso estava sendo fechado, mas foi reaberto na semana passada após reclamação, na Ouvidoria Municipal, da Fábrica de Pios Maurílio Coelho, cujo prédio é anexado ao pavilhão da Ilha da Luz.

O Teatro Municipal Rubem Braga encontra-se inutilizado desde a enchente de 2020, a maior registrada na história do município. Em outubro, a Governo do Estado assinou contrato de convênio para o repasse de R$ 3,5 milhões para a Prefeitura de Cachoeiro reformar o espaço, que teria duração de 14 meses. Entretanto, ainda não foi lançado o processo licitatório para contratação da empresa que ficará a cargo do trabalho.

No caso do Palácio Bernardino Monteiro, onde funcionará um centro cultural, a obra de restauração está 80% concluída e deverá ser finalizada no primeiro semestre do ano que vem, segundo a Prefeitura de Cachoeiro – apesar de trâmites pendentes junto ao Governo do Estado terem criado impasses para a finalização

Questionada por Século Diário sobre o trabalho de conservação e restauração dos espaços de cultura e lazer do município, a Prefeitura de Cachoeiro não deu retorno às solicitações. 

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