Empresa nem Iema informam extensão do dano. Moradores temem mais problemas na estrutura precária de extração do óleo
Dez dias após o vazamento de óleo no Campo Lagoa Parda, na região de Areal, em Linhares, norte do Estado, ocorrida no dia 15 de fevereiro, ainda não se sabe a extensão do dano causado aos ecossistemas e os possíveis riscos à saúde das comunidades locais.
Nem a empresa proprietária dos poços de petróleo, a Imetame Energia, nem o órgão responsável pelo licenciamento ambiental e fiscalização da atividade, o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), apresentaram os cenários possíveis de contaminação.
Em nota nessa quinta-feira (24), a Imetame informou que “as ações de limpeza seguem evoluindo com ênfase na retirada de resíduos de áreas alagadas sob vegetação densa com equipes especializadas” e que “o fluxo de veículos e pessoas da comunidade está acontecendo normalmente”.
Sobre a chegada do material tóxico ao rio Preto, afluente do Rio Doce, a empresa continua negando, apesar do alerta feito por moradores durante protesto realizado no último dia 18, de que vestígios do óleo já podiam ser vistos no pequeno córrego d’ água que atravessa as comunidades de Entre Rios e Areal e vai se unir ao Rio Doce na comunidade de Regência, já no litoral.
A empresa também repetiu que “as coletas de água e solo de toda região se encerraram, dando início à fase de análises laboratoriais” e que “as causas do acidente estão sendo investigadas pela equipe técnica da Imetame e empresa especializada contratada”.
Reuniões estão sendo feitas com grupos de moradores da região que, recebendo informações apenas da empresa, seguem convivendo com o receio de mais uma grande contaminação impune, que acrescenta óleo à lama despejada pela Samarco/Vale-BHP há seis anos.
Em suas redes sociais, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) divulgou uma nota assinada pelo Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo (Sindipetro-ES), os gabinetes dos deputados Iriny Lopes e Helder Salomão, do PT, a Federação dos Órgãos de Assistência Social e Educacional (Fase) e a Associação de Surf de Regência (ASR).
Nela, as entidades ressaltam que “a estrutura adquirida recentemente pela Imetame faz parte do lote de operações em terra que a Petrobras tem vendido no Estado” e que tratam-se de “estruturas antigas, muitas sem manutenção, e que, se após o pré-sal não era prioritária para a estatal, voltou a produzir em ritmo acelerado desde a sua aquisição pela Imetame”.
A preocupação das comunidades, sublinham, “é com a manutenção dessas estruturas, já que os vazamentos, como este que aconteceu em uma época de cheia dos brejos lagoas e rios da região, pode contaminar o Rio Doce onde é captada a água que abastece Regência”, sendo que “os moradores da região afirmam que parte do óleo já atingiu o Rio Preto, que deságua no Rio Doce”.
‘Submercado petroleiro’
Integrante da Campanha Nem Um Poço a Mais, que busca conscientizar a sociedade sobre a necessária transição para uma “civilização pós-petroleira”, a Fase acentua ainda o quão arcaico e insustentável é o “submercado de poços maduros de petróleo”.
O coordenador estadual da Fase no Espírito Santo, Marcelo Calazans, chama atenção para o fato de que, ao privatizar seus poços maduros, a Petrobras “se livrou do mega passivo social e ambiental que deixou na região”, mas, “claro, esse passivo não foi ‘comprado’ pela Imetame. Restou como externalidade”.
Há o agravante, ressalta o coordenador, de que “assim como a Imetame, a maior parte das empresas que operam nesse submercado da produção nacional não tem expertise no setor, nem capital para o operar com tecnologia mais moderna e segura. Sem contar que se trata de um óleo residual, em geral mais pesado e de mais caro e poluente refino”, expõe o coordenador-geral, alinhado com as críticas feitas pelo Sindipetro/Es em vistoria feita no local no dia seguinte, quarta-feira (16), quando constatou a precariedade dos materiais e técnicas utilizadas para a contenção do material, que se espalhava pelos alagados.
Para tornar a atividade mais rentável, aponta, essas empresas necessitam de “muito apoio e incentivos fiscais do Estado, além de baixo investimento em tecnologia e mão de obra, bem como baixa fiscalização e valor das multas, sem nada de reparação”.
A atividade está “na contramão de seus discursos [de governos e empresas] sobre mudanças climáticas”, sublinha Marcelo Calazans. Ainda assim são grandes receptoras de benefícios fiscais. “Os governos federal e estadual têm incentivado a expansão da indústria petroleira, como os investimentos do Bandes [Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo] no Porto Central, em Presidente Kennedy, e os 40 milhões na Imetame, via Bandes [Banco de Desenvolvimento do Estado] e Banestes [Banco do Espírito Santo]”.