O protesto é realizado por profissionais da pesca dos municípios de Caravelas, Nova Viçosa e Alcobaça, onde se localiza a Resex, e também de Ahomar, no Rio de Janeiro. Segundo manifesto divulgado pelo Movimento Autônomo dos Pescadores de Cassurubá, o bloqueio é por tempo indeterminado, até que a empresa atenda às reivindicações.
O comunicado destaca os graves impactos ambientais que a dragagem do canal provoca sobre o território tradicional da pesca de aproximadamente dois mil pescadores artesanais, citando o descarte de sedimentos, que resulta em assoreamento do ambiente estuarino; o carreamento de material lamoso às praias e recifes de coral; o soterramento dos bancos camaroneiros; a alteração da dinâmica hídrica estuarina; e a limitação às áreas tradicionais de pesca.
Os impactos são semelhantes aos provocados pelas dragagens do Portocel, em Barra do Riacho, no Espírito Santo, de propriedade da Aracruz Celulose, onde os pescadores locais, incluindo de Barra do Sahy, sofrem com o desaparecimento do pescado, exterminando a atividade econômica tradicional da região.
Além da do mar e dos córregos, da escassez de água – por meio de canais artificiais, como o Caboclo Bernardo, a Aracruz Celulose desvia e capta parte da vazão de córregos e rios da região para abastecer suas fábricas –, da violência e da desestruturação social, as outroras bucólicas vilas pesqueiras sofrem com a poluição do ar, que provoca o forte cheiro de enxofre, oriunda, segundo os moradores, de um aterro sanitário desativado.
O norte do Espírito Santo concentra, segundo lideranças comunitárias locais, cerca de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) municipal, porém, é uma das regiões mais carentes de serviços públicos essenciais e geração de emprego e renda para os moradores locais, geralmente preteridos na ocupação das vagas abertas pelas mais de uma dezenas de indústrias instaladas no entorno, como a Jurong,
'Artimanhas sorrateiras'
Na Bahia, a Aracruz Celulose (Fibria) é responsável pela dragagem do Canal do Tomba. Por estar localizado na zona de amortecimento da Reserva, o empreendimento é licenciado pelo Instituto Brasileiro de Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que determinou diversas condicionantes ambientais.
No entanto, denunciam os pescadores, “a empresa está se valendo de artimanhas sorrateiras, ao contratar uma empresa de consultoria que, ao invés de coordenar e orientar a execução dos projetos de maneira participativa, justa e isenta, promove a cooptação de falsas lideranças e associações de fachada, no intuito de dividir, enfraquecer e manipular a participação popular nos processos decisórios da Reserva Extrativista”, descrevem.
Entre as condicionantes ambientais, a criação de uma cooperativa para os pescadores e marisqueiros locais, a Coompescar, é o alvo principal das reivindicações do Movimento. Financiamento da quota-parte de pescadores indicados pelo Movimento, auditoria interna, disponibilização de curso de cooperativismo a todos os pescadores cadastrados e inscrição de todos os interessados em se cooperar são algumas delas.
O Movimento também exige a substituição imediata do consultor que atualmente acompanha o Programa de Apoio às Atividades Pesqueiras, por outro indicado pelos próprios pescadores.
“Os extrativistas da Resex de Cassurubá decidem assim enviar um forte sinal ao Ibama, ICMBio e Aracruz Celulose”, alerta o Movimento: “Não irão mais tolerar o cinismo de falsas lideranças comunitárias e associações de fachada, que se valem da convergência de interesses escusos com o maior poluidor do extremo sul da Bahia“.