(Atualizada às 21h50) Nove horas após o início da ocupação do Palácio Anchieta, no Centro de Vitória, permanece o impasse sobre a principal reivindicação dos movimentos sociais de, finalmente, conseguir uma audiência com o governador Paulo Hartung (PMDB) para debater a pauta do campo e da cidade. Os militantes passaram esta terça-feira (8) em negociação com secretários da gestão estadual, mas Hartung estabeleceu prazo de 15 dias para o encontro, prazo considerado longo para as lideranças, que tentam desde o ano passado, sem sucesso, estabelecer um diálogo com o peemedebista. Se não houver recuo da gestão estadual, cerca de 300 militantes devem dormir no local. Caso contrário, eles podem deixar o prédio a qualquer momento.
Os manifestantes também participam da ocupação da Secretaria de Estado da Educação (Sedu), que já dura 21 dias, com inúmeras tentativas fracassadas de abrir a mesa de negociação com o governo Hartung.
Das reuniões realizadas até a noite desta terça, os manifestantes conseguiram agendar um encontro com o secretário de Estado da Educação, Haroldo Rocha, para a próxima sexta-feira (11), às 16 horas. Já o governador, por meio do secretário da Casa Civil, Paulo Roberto, acenou para uma reunião entre os dias 28 e 30 de março, estabelecendo o impasse.
A mobilização, que marca a série de lutas do Dia Internacional da Mulher, saiu da Praça de Jucutuquara e seguiu para o Centro de Vitória até o Palácio, com a participação de 500 mulheres, e de representantes dos movimentos sociais, reunindo cerca de mil pessoas.
O principal ponto da pauta são as ações do governo Hartung para fechar as escolas dos assentamentos e acabar com a pedagogia da alternância, responsável por manter os jovens no meio rural. Essa metodologia intercala um período de convivência na sala de aula com outro no campo, no entanto, o governo decidiu pagar somente a hora/aula de cada educador, sem contabilizar o tempo de acompanhamento no campo e na auto-organização dos estudantes.
O ato denuncia ainda os impactos ambientais e sociais das empresas do agronegócio, representadas no Estado principalmente pela Aracruz Celulose (Fibria) e Suzano Papel e Celulose, e seus impactos sociais e ambientais que ameaçam a produção saudável de alimentos e provocam o êxodo rural.
Os movimentos sociais cobram o reconhecimento, continuidade e expansão da pedagogia de alternância; aprovação das diretrizes das escolas de assentamentos e acampamentos; não fechamento de turmas, turnos e escolas do campo e da cidade; garantia de acesso, permanência, continuidade e qualidade social da educação básica; e editais específicos para a contratação de profissionais de educação efetivos e em regime de Designação Temporária para as escolas do campo.
Em outras áreas, a assinatura de decreto de emergência do Estado em função da seca; construção imediata das barragens; assistência técnica, social e ambiental para todas as famílias assentadas; levantamento e destino das áreas devolutas do Estado para fins de reforma agrária; aquisição de áreas penhoradas nos agentes financeiros e destinação para reforma agrária; punição da Samarco, Vale e BHP por crime ambiental; e medidas contra a expansão dos plantios de eucalipto no Espírito Santo.
O governo Hartung recebeu a pauta das entidades ainda em 2015.
Nacional
Cerca de 700 agricultores familiares – 500 do Espírito Santo e 200 de Minas Gerais – participam de manifestações também em Brasília nesta terça-feira. Eles cobram do governo federal medidas emergenciais em decorrência dos problemas que tiveram com as últimas safras e do prejuízo causado pela contaminação do rio Doce, após o crime da Samarco/Vale-BHP.
Entre as principais reivindicações dos agricultores familiares para amenizar o cenário de dificuldades está a anistia de dívidas para quem perdeu a safra e para quem teve a safra prejudicada. Eles pedem, também, uma política permanente de preservação de água que, por meio de reservatórios, permita aproveitar as águas acumuladas durante os períodos de cheia.
“Queremos também garantias para que a Samarco arque com cerca de R$ 1 bilhão de prejuízos causados pela lama derramada no rio Doce. Que a seguradora pague esse prejuízo e depois cobre da Samarco, porque sem irrigação não temos alimentos”, disse o presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do Espírito Santo (Fetaes), Júlio Cézar Mendel, ao defender à Agência Brasil que, a exemplo do Seguro Defeso, as famílias prejudicadas sejam restituídas em R$ 5 mil por mês para compensar os danos.
Os camponeses do Estado encerraram 2015 sem qualquer condição de garantir a produção de alimentos em decorrência da seca, o que já comprometeu a colheita do ano que se inicia e ainda ameaça a de 2017.
A Fetaes assina, junto com Via Campesina, MST, Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), Associações de Pequenos Agricultores e igrejas, a pauta de demandas do campo entregue aos governos federal e estadual no ano passado.