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‘Índio bom é índio morto’

Na volta de um passeio a cavalo, cerca de vinte indígenas da etnia Tupinikim, incluindo mulheres e crianças, foram abordados de forma violenta pela Polícia Militar no final da tarde desse sábado (4) na Rodovia ES-010, na altura da Praia dos Padres, em Aracruz, norte do Estado.

As famílias retornavam de Mar Azul, quando cerca de quatro policiais se aproximaram aos gritos e com arma em punho, mandando que todos descessem e deitassem no chão. A alegação foi a obstrução indevida da via.

Douglas Silva, presidente da Associação Indígena Tupiniquim e Guarani (AITG), conta que naquele trecho, sem acostamento, de fato os cavalos ocuparam a pista, mas, como pode ser constatado em vídeo postado nas redes sociais, não há outro local para os cavalos naquele ponto da rodovia.

 
O vídeo (acima) também mostra as tentativas de diálogo dos indígenas, inclusive chamando um dos policiais pelo nome, apelando para seu bom senso, por conhecer os abordados. Em nenhum momento, no entanto, os policiais manifestaram qualquer possibilidade de diálogo, mantendo as armas apontadas.

Num ato considerado abuso de autoridade, os policiais então abriram fogo contra os cavalos, ferindo gravemente dois ou três animais. Um deles inclusive continuava na rodovia até a publicação desta matéria, pois, com hemorragia, não consegue se locomover. Um veterinário do Centro de Zoonoses estava a caminho para prestar atendimento. Vários indígenas também foram machucados, por balas de borracha e cassetetes.

Até policiais em greve foram se somar à violência

Segundo os índios, ao requisitarem a presença da Polícia Federal, foram ainda mais insultados, com falas preconceituosas dos policiais – que deveriam ser os guardiães da lei – inclusive como “Índio bom é índio morto”. “Foi mais uma prova da ‘tolerância zero da Polícia com os indígenas”, lamenta Douglas. Em um certo momento, todos os 40 policiais que estavam em greve desceram até o local. “Pra atender a sociedade eles não saem, mas pra bater em índio, sim”, revolta-se.

Diante da violência, o coordenador técnico local da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Aracru, Vilson Benedito de Oliveira, o Jaguareté, saiu em defesa das vítimas e foi então um dos mais agredidos. Tomaram seu celular e o espancaram. Mesmo muito machucado, Jaguareté foi detido, levado junto com mais seis pessoas – os caciques de Irajá e Caieiras Velha, o presidente da AITG, que nos relatou os acontecimentos, uma liderança de Caieiras e dois funcionários não-indígenas da Funai – para a delegacia de Aracruz, onde todos passaram a noite. Somente na manhã deste domingo (5), outras lideranças conseguiram levar um advogado até a delegacia, para soltura dos companheiros detidos.

A Rodovia Primo Bitti – que atravessa as aldeias de Caieiras e Irajá – está bloqueada desde o ocorrido no sábado e, a partir desta segunda-feira (6), serão fechadas também a Rodovia ES-010, local do crime, e a estrada que liga a cidade de Aracruz à fábrica da Aracruz Celulose (Fibria).

O protesto visa chamar atenção das autoridades. Os indígenas reivindicam ser atendidos pelo coordenador estadual dos Direitos Humanos, pelo secretário estadual de Segurança Pública e pelo governador Paulo Hartung. A pauta inclui outras demandas das comunidades, entre elas o funcionamento da Escola de Ensino Médio de Caieiras, que depende apenas da contratação de mão de obra por parte da Secretaria Estadual de Educação (Sedu).

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