Os índios Tupinikim e Guarani de Aracruz (norte do Estado) bloqueiam, desde a manhã dessa segunda-feira (29), a ferrovia da Vale que corta o município, no ponto próximo à aldeia de Comboios. Desta vez, o protesto é por tempo indeterminado e exige a inclusão das aldeias do município no acordo assinado pela União e governos do Estado e de Minas Gerais com a Samarco, controlada pela Vale e a anglo-australiana BHP Billiton.
Segundo o coordenador regional da Fundação Nacional do Índio (Funai),Vilson Tupinikim, o Jaguareté, a informação obtida pelos caciques é de que o acordo contempla apenas os Krenak de Minas Gerais e os índios das aldeias de Comboios em Aracruz.
O argumento é o mesmo que vem defendendo as empresas para negar um auxílio emergencial às famílias das dez aldeias locais, desde que a lama de rejeitos da mineração chegou ao município. A Samarco/Vale-BHP insiste que o crime só prejudicou os índios de Comboios, mas os impactos atingem as famílias de toda a Terra Indígena (TI) Tupinikim e Guarani.
Com a contaminação do rio Doce, que desvia suas águas para o rio Riacho, em Aracruz, por meio do Canal Caboclo Bernardo, e da Reserva de Comboios, que faz limite com a aldeia de Comboios, os índios estão impedidos de exercer sua principal atividade de subsistência, que é a pesca artesanal. Também há registros da mortandade de peixes do rio Piraqueaçu, como já provaram os índios às empresas.
Antes mesmo do acordo, os Tupinikim e Guarani se sentaram à mesa de negociação com a Samarco/Vale-BHP diversas vezes, sem sucesso. Também já realizaram uma série de protestos na ferrovia e nas rodovias do município. Mas as conversas, realizadas desde o início de janeiro, não avançam.
A reivindicação dos índios é para que as empresas assumam um plano emergencial até que sejam concluídos os estudos que irão dimensionar os impactos do rompimento da barragem às terras indígenas. Eles apontam como mais importante, porém, os projetos que deverão ser elaborados para mitigar os danos e oferecer condições às aldeias para que voltem a desenvolver suas atividades.
Além do descaso das empresas, os índios denunciam a postura do governo do Estado, que não cobra providências para a situação das aldeias, muito menos atua como intermediador do impasse.
O acordo fechado com a Samarco/Vale-BHP, que livrará as empresas da ação civil pública de R$ 20 milhões, gerou reações da sociedade civil organizada, pois não consultou as comunidades atingidas. As decisões sobre as ações que irão mitigar os danos ambientais e as indenizações caberão às próprias mineradoras que respondem pelo crime.