A reforma do setor de Zoologia do antigo Museu de Biologia Prof. Mello Leitão (MBML), em Santa Teresa (região serrana), indica que, pelo menos por enquanto, o acervo científico da instituição criada há 59 anos por Augusto Ruschi permanecerá em seu endereço original.
“É uma vitória”, comenta o biólogo e doutor em Zoologia Piero Ruschi, filho caçula do fundador do Museu, o cientista Augusto Ruschi, Patrono da Ecologia do Brasil. A intenção do diretor do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), Sergio Lucena, lembra Piero, era levar as coleções científicas e os laboratórios para a zona rural de Santa Teresa, além de transformar em uma revista informativa o boletim científico do Mello Leitão, fundado junto do próprio Museu.
A reforma, no entanto, é bastante modesta, avalia, limitando-se basicamente a uma subida do piso, para evitar problemas futuros com possíveis novas enchentes, como a de 2000, que molhou todas as coleções. O que indica que o futuro continua incerto.
“Como o Museu perdeu autonomia, não há garantias para o futuro. A qualquer momento a direção do Instituto pode decidir retirar as coleções dali, levando-a pra Vitória ou qualquer outro lugar”, lamenta.
Além de possivelmente temporária, a vitória relativa às coleções científicas perde ainda força diante de outra notícia gerada pela diretoria do INMA: a exoneração do biólogo Claudio Nicoletti Fraga, escolhido como primeiro chefe da Divisão de Ciências do Instituto.
“A saída do Claudio é uma possível indicação que a memória do meu pai vai ser ainda mais destruído no Instituto, pois as ideias do Claudio representavam uma oposição às ideias desrespeitosas do Sergio [Sergio Lucena, diretor do INMA]. O caminho da destruição do legado do meu pai está se abrindo ainda mais”, observa Piero.
Em um de seus artigos na coluna que manteve neste Século Diário, Piero falou sobre as diferentes propostas dos dois candidatos capixabas ao cargo de diretor do INMA. Claudio, relatou Piero, defendeu haver “diversas opções seguras de expansão das instalações que tornam desnecessária a remoção das coleções e laboratórios da área urbana do município: construção de novos prédios dentro do terreno do próprio museu substituindo as edificações antigas; uso de terrenos vizinhos ao Instituto; ou uso do prédio que sediava o antigo Hospital Municipal. Medidas que também garantem manter o espaço atual do Instituto para visitação e educação ambiental”.
A captação de recursos também apresentou diferenças frontais, com Claudio visualizando aumentar as parcerias com o município e o Estado e Sergio declarando que “o novo diretor precisará ‘correr atrás’ de recursos privados para a instituição, indicando os recursos da indústria florestal capixaba, sobretudo a de celulose, como uma fonte potencial adequada ao novo Instituto: ‘Precisamos, de alguma forma, nos aproximar do setor florestal para conseguir recursos’”.
A Aracruz Celulose – hoje Fibria – foi um dos empreendimentos industriais mais criticados por Augusto Ruschi, devido à sua previsão sobre os impactos socioambientais nefastos tanto nas áreas de plantio de eucaliptos, quanto ao redor da unidade fabril.