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Intoxicação por agrotóxico aumenta 126% entre trabalhadores rurais

Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) confirmam que, entre os anos de 2007 e 2011, as intoxicações por agrotóxicos aumentaram 126,8%, bem como os casos de acidentes de trabalho não fatais devido a essas substâncias, que tiveram um aumento de 67,4%. Entre as mulheres, as intoxicações por agrotóxicos tiveram um crescimento ainda maior, chegando a uma taxa de 178%.
 
No artigo, descreve-se que na atualidade os agrotóxicos constituem um problema de saúde pública, “tendo em vista a amplitude da população exposta nas fábricas de agrotóxicos e em seu entorno, na agricultura, no combate às endemias e outros setores, nas proximidades de áreas agrícolas, além de todos nós, consumidores dos alimentos contaminados”, como explicam no artigo. O artigo que comprova tais números foi publicado na última edição dos Cadernos de Saúde Pública e é de autoria de Raquel Maria Rigotto, Dayse Paixão e Vasconcelos e Mayara Melo Rocha
 
Os problemas se tornam ainda maiores quando se soma a essa taxa o fato de que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo desde o ano de 2008. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão responsável por liberar tais produtos no país, o mercado brasileiro de agrotóxicos cresceu 190% nos últimos 10 anos, um ritmo muito mais acentuado do que o do mercado mundial, que foi de 93% no mesmo período. Não só consumidores, mas também os trabalhadores rurais são os principais atingidos pelo poder destrutivo desses produtos químicos.
 
Doenças de pele e respiratórias são comuns entre aqueles que lidam diretamente com os produtos. Até mesmo a suposta utilização segura desses componentes foi derrubada por recente dissertação de mestrado. Trabalho recente do pesquisador Pedro Henrique de Abreu conclui claramente que  “[não existe] viabilidade de cumprimento das inúmeras e complexas medidas de “uso seguro” de agrotóxicos no contexto socioeconômico destes trabalhadores rurais”.
 
Entre as constatações que levaram o pesquisador à conclusão, estão o fato de que a aquisição dos agrotóxicos é feita sem perícia técnica; a receita é fornecida por funcionários das lojas, sem que os agricultores recebam instruções na hora da compra; o transporte dos produtos tóxicos é feito nos veículos convencionais, que não atendem aos requerimentos de segurança; o armazenamento dos produtos nas propriedades rurais é inadequado; e o tamanho das terras impede que seja respeitada a distância segura entre o local das aplicações e as casas e fontes de água.
 
O Grupo de Genética e Mutagêneses Ambiental (GEMA), formado por pesquisadores da Universidade Nacional de Río Cuarto (UNRC), em Córdoba, na Argentina, também declarou recentemente que os agrotóxicos causam alterações genéticas e aumentam as probabilidades de contrair câncer, sofrer abortos espontâneos e nascimentos com malformações.
 
Além de atacarem diretamente a saúde humana, os resíduos dos químicos se acumulam no solo, na fauna e na flora, e muitas vezes chegam a contaminar lençóis freáticos. O Espírito Santo é o terceiro estado na aplicação de agroquímicos e, assim como ocorre no país, movimentos do campo defendem a proibição da comercialização, uso e aplicação de agrotóxicos que já são proibidos fora do Brasil e a proibição da pulverização aérea em municípios do norte capixaba onde já foram registrados graves casos de contaminação nos últimos anos. 
 
Em 2012, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), denunciou o vazamento de uma dessas substâncias em um córrego na comunidade de São João Bosco, em Jaguaré, no norte do Estado. A contaminação provocou a morte de peixes e aves, além de ter atingido a água e o solo da região. Jaguaré é considerada a capital nacional do café Conilon, mas já começa a ser chamada de “Capital do Conilon envenenado e do desrespeito aos Direitos Humanos”, já que são somados a esse caso os sobrevoos de aviões agrícolas sobre escolas, comunidades rurais, nascentes e áreas de preservação. 

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