A Associação Juntos SOS Espírito Santo Ambiental encaminhou ofícios aos senadores e deputados da bancada capixaba no Congresso Nacional, solicitando a destinação de emenda parlamentar conjunta para financiamento de estudos científicos sobre os impactos a curto e longo prazos da poluição do ar na saúde dos moradores da Grande Vitória. Os projetos foram elaborados de forma colaborativa entre a entidade e pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), com orçamento total previsto em R$ 13,18 milhões.
As pesquisas Investigação da Toxicidade Crônica Causada pela Poluição Atmosférica: Estudo Longitudinal em Modelo Animal e Estudo dos Efeitos de Curto e Longo Prazo Causados à Saúde pelo Material Particulado na RMGV são complementares e foram desenhadas pelos professores Jane Meri Santos e Neyval Reis Junior, do Departamento de Engenharia Ambiental, e José Geraldo Mill, do Departamento de Ciências Fisiológicas.
Os objetivos, como apontam, são monitorar os poluentes atmosféricos de forma sistemática, para diagnosticar a qualidade do ar nas regiões urbanas e, a partir disso, auxiliar a sociedade na compreensão dos impactos e estabelecer estratégias e cobranças por medidas de prevenção.
Investigações científicas a respeito do problema, um dos principais da área ambiental do Espírito Santo, são uma demanda antiga das entidades que lutam contra a poluição do ar, principalmente provocada pela Vale e ArcelorMittal. A necessidade de realizá-las foi, inclusive, incluída no relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), até hoje sem providências. O financiamento caberia à Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado (Fapes).
O estudo em modelo animal, proposto no primeiro projeto, é defendido pelos pesquisadores como necessário para complementar os registros epidemiológicos em seres humanos, pois permitem identificar se lesões específicas em órgãos-alvo, como vasos sanguíneos, se associam à deposição de algum agente tóxico existente no material particulado, o que não é possível em estudos epidemiológicos.
Eles explicam que a exposição de animais ao ar, com graus variáveis de poluição, é uma das três abordagens experimentais que têm sido mais utilizadas para determinar o potencial toxêmico de poluentes atmosféricos. Isso porque, o poluente alcança as vias aéreas pela via natural (em mistura com o ar) e os mecanismos de defesa (produção de muco e movimento ciliar) são mantidos íntegros, podendo até mesmo serem investigados sob efeito dos poluentes.
A pesquisa será feita com ratos e, para avaliar os impactos crônicos, os roedores serão expostos ao poluente por períodos breves, porém, equivalentes à longevidade humana. “O rato Wistar tem longevidade média de cerca de 24 meses. Aos 3 meses apresenta plena maturidade sexual e aos 12 já apresenta alguns sinais típicos do envelhecimento. Neste estudo nos propomos a empregar o modelo experimental que mais se assemelha à exposição humana e por um tempo que se assemelha a 25 a 50% do tempo de vida do animal”.
A outra linha de pesquisa pretende analisar os efeitos da exposição à poluição na morbidade cardiovascular e respiratória, com investigação dos atendimentos à saúde da população em 22 hospitais de Vitória, Serra, Vila Velha e Cariacica.
“O modelo clássico para determinar a associação entre os níveis de poluição atmosférica e a incidência de eventos fatais e não fatais decorrentes de doenças crônicas é o levantamento contínuo destes dados no espaço pré-definido onde se é feito, simultaneamente, o monitoramento dos níveis dos poluentes”, diz o projeto.
Os pesquisadores ressaltam as evidências da Organização das Nações Unidas (ONU) de que tanto os poluentes gasosos quanto os particulados são fatores de risco para doenças respiratórias e podem contribuir para o seu desenvolvimento e agravamento, especialmente o dióxido de enxofre (SO2), dióxido de nitrogênio (NO2), ozônio (O3) e material particulado.
“Grande número de estudos tem encontrado associações significativas entre os níveis diários de concentração de poluentes e atendimentos por causas respiratórias ou cardiovasculares. No Espírito Santo, por exemplo, o aumento da concentração desses poluentes na atmosfera já foi associado ao aumento do número hospitalizações por doenças respiratórias”.
O conhecimento dessa relação, como ressaltam os pesquisadores, “é de fundamental importância para a Grande Vitória, pela coexistência de alta prevalência de doenças respiratórias, condições ambientais desfavoráveis, existência de indústrias com potencial poluidor dentro da malha urbana e o crescente tráfego automotivo”.
A primeira linha de pesquisa tem orçamento de R$ 4,6 milhões e a segunda, completa, de R$ 8,58 milhões.
No Congresso Nacional, cada um dos 13 parlamentares do Estado tem direito a 25 emendas individuais por ano e a bancada a duas, com apresentações até 20 de outubro. Valores estimados para emendas em 2018 são, respectivamente, de R$ 14,7 milhões e até R$ 162,5 milhões. As individuais, no entanto, têm liberação obrigatória, enquanto as coletivas dependem do aval do presidente da República.