Covid-19 foi tema do projeto que acontece há 24 anos em protesto por poluição da Vale e ArcelorMittal
Nem mesmo o quintal repleto de vegetação consegue conter a chegada do pó preto oriundo das indústrias da Vale e ArcelorMittal, localizados mais de 30 quilômetros distantes do ateliê do artista plástico Kléber Galvêas na Barra do Jucu, Vila Velha. Nessa quarta-feira (6), ele cumpriu mais uma etapa de sua tradicional arte-protesto A Vale, a Vaca e a Pena, que acontece há 24 anos.
Depois de 50 dias de exposição de uma tela branca ao ar livre, ele realizou a pintura do quadro anual da série, utilizando seu dedo e o pó preto acumulado sobre a tela. O tema não poderia ser outro: o novo coronavírus. O desenho, cuja feitura foi registrada em vídeo por seu neto, mostra um homem usando máscara com o dito “Pó Preto”. Lembrando do momento atual de preocupação e cuidado com a proteção das vias respiratórias, Kléber tenta chamar atenção para lembrar de que o problema do pó preto já atormenta o cotidiano da Grande Vitória há 50 anos.
O artista também gravou outro vídeo com uma sugestão de teste para seus seguidores. Com uma folha de papel, um imã e o pó acumulado em alguma lugar de casa, podem testar para comprovar que esse pó é realmente composto por metal (o link para baixar o vídeo está no final da matéria).
Na tradição anual, Kléber Galvêas coloca o quadro em exposição ao ar livre a partir do dia 17 de março, que este ano coincidentemente foi o dia em que se anunciou a primeira morte por Covid-19 no Brasil e, também, quando teve início o isolamento social no Espírito Santo. A cada 6 de maio ele apresenta uma nova obra feita com o pó de minério acumulado, sempre relacionada com algum tema em evidência no momento.
A ideia surgiu na época em que se preparava a privatização da Vale, cujo leilão havia sido marcado para o dia 6 de maio de 1997. A expectativa do pintor era de que com a privatização aumentasse a fiscalização e a poluição diminuísse, mas não foi o que ocorreu, justificando a continuidade do projeto em protesto, que persiste até hoje, apesar dos inúmeros anúncios de investimentos que prometem reduzir os resíduos das indústrias.
Kléber se preocupa com o fato de, pela exposição contínua e acumulada ao pó preto, muitos capixabas possuem um sistema respiratório debilitado, o que pode se tornar um agravante em caso de contágio com a Covid-19.
Seria de se comemorar se Kléber Galvêas tivesse que decretar o fim do projeto A Vale, a Vaca e a Pena por falta de matéria-prima para pintar seus quadros. Mas no que depender dos empresários e autoridades, tudo indica que a tarefa quixotesca do artista ainda deve persistir.
Vídeo de experiência com Pó Preto – Kléber Galvêas
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