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Lagoa seca pela monocultura de eucalipto renasce no Território Quilombola

Existe vida em meio ao deserto verde da monocultura de eucaliptos, no norte do Espírito Santo. Vida real, resiliente e próspera, e que não consta na onerosa publicidade ou nos relatórios de (in)sustentabilidade das papeleiras multinacionais Aracruz Celulose (Fibria) e Suzano Papel e Celulose.

Vida que brota das mãos das pessoas que se dedicam a plantar água no Território Quilombola Tradicional do Sapê do Norte, entre Conceição da Barra e São Mateus. Vida que ressurge a cada eucaliptal substituído por agroflorestas, a cada nascente protegida, a cada metro quadrado de Áreas de Preservação Permanente (APPs) reflorestado, a cada lavoura de alimentos saudáveis que é erguida.

Do trabalho com a terra, floresce também tradições culturais e novas formas de interagir com a sociedade não-quilombola e com a terra secularmente habitada pelos antepassados, com as quais a identificação e interdependência é mais que emocional, é orgânica.

Há cerca de cinco anos, os moradores da comunidade quilombola do Angelim 1, em Conceição da Barra, se dedicam intensamente à restauração de um complexo de lagoas que desapareceram ao longo de mais de 40 anos de monocultura de eucaliptos.

A lagoa do Murici, localizada numa área de Retoma – áreas que compõem o Território Quilombola, mas que ainda estão ocupadas pelo deserto verde, sendo então resgatas pelas comunidades tradicionais – nas proximidades do Angelim 1, foi a primeira das três lagoas a dar sinais de vitalidade.

“As atividades favoráveis ao aparecimento da agua continuarão por aqui”, afirma o técnico em agropecuária e agroecologista João Batista Guimarães, o João do Angelim, referindo-se basicamente ao Sistemas Agroflorestais (SAFs) voltados ao plantio de água na região, a partir dos conhecimentos adquiridos em diversos seminários, oficinas e atividades desenvolvidas junto a variadas entidades e organizações que apoiam a luta quilombola por seu território tradicional, como igrejas, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

“São vários pontos, várias ações integradas, vários grupos experimentando a ideia de plantar água”, conta. “Estamos numa situação complicadíssima com água potável, água do rio mesmo”, diz João do Angelim.

No futuro, a ação agroflorestal deve se somar a projetos turísticos, aproveitando a visibilidade da comunidade vizinha, a Vila de Itaúnas. vizinha. “Vamos trabalhar o agroturismo”, anuncia. 

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