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​Livro reúne estudos sobre poluição do ar na Grande Vitória

Disponível para download gratuito, publicação aponta informações sobre como a população é afetada pelas emissões

A poluição do ar na Grande Vitória, causada pela Vale e ArcelorMittal, é, há décadas, motivo de debates e questionamentos diante dos impactos e denúncias da população. Estudos sobre o tema podem ser encontrados no livro Material Particulado na Atmosfera Urbana e Suas Interações com a Saúde Humana, disponível para download no site do Núcleo de Estudo da Qualidade do Ar (NQualiAr), vinculado ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

O
rganizada por Jane Meri Santos, Neyval Costa Reis Junior e Elson Silva Galvão, professores do Departamento de Engenharia Ambiental, a publicação reúne informações para os especialistas na área e demais interessados em entender o que vem a ser a poluição do ar, com suas fontes e processos atmosféricos, e como a população é afetada por respirar um ar com a presença de compostos com concentrações acima dos níveis recomendados como seguros. A iniciativa surgiu de uma articulação com a Organização Não Governamental (ONG) Juntos – SOS ES Ambiental.

O livro, afirma Jane, supre uma lacuna, que é a quantidade reduzida de literatura em língua portuguesa sobre poluição do ar. A publicação apresenta os efeitos do material particulado à saúde humana e como a poluição do ar atinge os diferentes órgãos humanos. Ela aponta que, quando se trata da Grande Vitória, se fala muito no que as pessoas chamam popularmente de pó preto, que vem do setor industrial, mas em Cariacica, na região da Central de Abastecimento do Espírito Santo (Ceasa), por exemplo, há material particulado de coloração marrom, cujas fontes são as rodovias.
“A Grande Vitória tem a complexidade das fontes industriais e veiculares dentro da região urbana”, diz. O Centro de Vitória, aponta, também tem impacto devido ao Porto. 

O livro destaca que a Grande Vitória é uma área afetada por forte urbanização e industrialização, incluindo a Vale e a ArcelorMittal Tubarão, cuja proximidade, além da similaridade das atividades metalúrgicas, ocasiona forte correlação espacial e temporal entre as emissões de seus materiais particulados.

No primeiro capítulo, destaca informações como legislação e incidência de material particulado na Grande Vitória. No segundo, a caracterização desse material na região metropolitana e de onde ele vem. No próximo, são abordadas as nanopartículas que se encontram no material particulado e sua interferência no pulmão humano. O quarto capítulo conta com estudos sobre os efeitos no sistema respiratório infantil. Por fim, são apontados os riscos à saúde por causa da exposição ao material particulado de forma geral por várias vias, como a pele e respiração.

Conforme consta no livro, de acordo com o Inventário de Emissões Atmosféricas da RGV [Região da Grande Vitória], publicado em 2019, além dessas duas empresas, a Grande Vitória ainda apresenta cerca de 105 empresas e atividades com potencial impacto poluidor do ar da região. Outro apontamento é que em alguns pontos há ultrapassagem das diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Entre os estudos que constam no livro, está um que avaliou os impactos da poluição do ar na saúde humana nos municípios de Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica. O objetivo foi estimar os efeitos nos atendimentos de emergência por doenças respiratórias em 47 menores de 18 anos, entre janeiro de 2005 e dezembro de 2006; estimar efeitos da poluição do ar nas internações hospitalares por causas respiratórias e cardiovasculares para adultos com idade entre 44 anos e 64 anos e idosos acima de 65 anos entre 2000 e 2006; e de mortalidade, entre 1980 e 2000, incluindo doenças respiratórias, cardiovasculares e neoplasias; os efeitos de poluição do ar em gestantes (baixo peso neonatal), entre 2002 e 2004; e avaliar as taxas de neoplasias no aparelho respiratório entre 1990 e 2003.

Os autores concluíram que as partículas inaláveis grossas (MP10) foram associadas ao baixo peso neonatal, nos 1º e 3º trimestres, em Vitória e na Serra. Em Cariacica, ocorreu associação com dióxido de nitrogênio (NO2) e dióxido de enxofre (SO2) no 3º trimestre. Em Vila Velha, não houve qualquer associação. Não houve influência de Ozônio (O3) na Serra no 1º trimestre e de monóxido de carbono (CO) em Cariacica, no 3º trimestre. Em Cariacica, houve influência à exposição ao SO2 e NO2, no 3º trimestre.

No que diz respeito a atendimentos de emergência, houve associação por doença respiratória em crianças e adolescentes por exposição ao MP10 nos municípios da Serra, Cariacica e Vila Velha. Em Vitória, observou-se o aumento próximo às áreas das fontes emissoras. Com relação ao CO, houve análise em Vila Velha e Serra, onde esteve associado com o atendimento de emergência por causa respiratória. Em relação ao NO2, não houve associação em Vitória, e nos demais municípios não foram realizadas associações.

O SO2 apresentou associação nos municípios de Vila Velha e Vitória, com efeitos mais prolongados neste último. Por falta de dados para análise temporal, o O3 não foi avaliado.

Em relação às internações hospitalares por doença respiratória e cardiovascular em adultos e idosos, pesquisadores concluíram que o MP10 é capaz de provocar aumento significativo das internações e que houve padrão de associação semelhante, tanto para a região estudada quanto para os grupos etários. O NO2 foi associado às internações hospitalares nos quatro municípios. No que diz respeito ao SO2, houve associação nos adultos e idosos, porém, não ocorreu associação em Vitória, Vila Velha e Serra. Houve associação com O3 nessas regiões e, quanto ao CO, ocorreu associação consistente em Vitória.

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