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Maiores ativos ambientais do ES foram inspirados em Augusto Ruschi

Augusto Ruschi, patrono da Ecologia do Brasil, foi certamente o cientista mais engajado na luta pelas questões ambientais mais importantes do Espírito Santo ao longa de sua vida. Visionário, a maioria das suas previsões continua prioritária até hoje.

E é essa sua visão apaixonada e igualmente responsável e cientificamente embasada, que nos inspira a identificar que, de todas as suas bandeiras, a agricultura orgânica e ecológica, a conservação das tartarugas marinhas e a maioria das Unidades de Conservação (UCs) existentes são três dos principais ativos ambientais que ainda pulsam no dia a dia dos capixabas.

A Estação Biológica de Santa Lúcia e o Museu de Biologia Prof. Mello Leitão (MBML), ambos em Santa Teresa, e a Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi, em Santa Cruz/Aracruz, também se destacam, como heranças diretas do naturalista, que fundou o Museu na antiga chácara de sua família e cedeu terrenos particulares para a criação das duas estações, sendo que, hoje, Santa Lúcia possui três proprietários: o MBML, a Associação dos Amigos do Museu Nacional e a família de seu falecido filho André Ruschi; e a estação marinha é administrada também pela família de André.

“Método Ruschi” chega à Índia

O Museu Mello Leitão passa por um momento extremamente delicado, estando gravemente ameado de ser extinto devido às atuações (no mínimo) equivocadas de um grupo de professores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), que transformaram a boa notícia da criação do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) no Espírito Santo num motivo para a alienação de todo o acervo e patrimônio do Museu fundado por Ruschi para futura incorporação ao recém e mal criado Instituto. Sim, porque, criado em 2014, até hoje não foi regulamentado. A família do naturalista luta para evitar a extinção do único Museu de História Natural do Espírito Santo e a briga já beira chegar à Justiça.

O combate ecológico à esquistossomose, através do repeixamento dos rios, e à raiva animal, através de um trabalho inédito com morcegos, conhecido como Método Ruschi (até há poucos anos ainda utilizado na Índia) não podem ficar de fora dessa nossa sucinta e modesta lista de benefícios atuais à vida dos capixabas, proporcionados pela militância ambiental, atuação política e brilhantismo científico de Augusto Ruschi.

Tartarugas marinhas

Autor de mais de 450 trabalhadores científicos, 22 livros e de cerca de 65% de todo o conhecimento, até então existente, sobre os beija-flores, Ruschi também é um dos grandes responsáveis, pelo início dos trabalhos de conservação das tartarugas marinhas.

 

A Reserva Biológica de Comboios, principal porto-seguro capixaba das tartarugas cabeçuda (Caretta caretta) e gigante ou de-couro (Dermochelys coriacea) – e o segundo principal no Brasil da cabeçuda e o único da gigante – foi criada em 1984 dentro da área do antigo Parque Estadual da Região Leste, criado na década de 1950 a partir dos estudos de Ruschi, tendo como principal finalidade a conservação dos carismáticos répteis marinhos, já seriamente ameaçados de extinção.

Joca Thomé, coordenador nacional do Centro Tamar-ICMBio, conta que o parque possuía 10 mil hectares, abrangendo toda a chamada ilha de Comboios, nela incluída a atual Terra Indígena de Comboios e as demais áreas de restinga entre o Rio Comboios e o mar, ao sul da Foz do Rio Doce. “Na época, o Instituto Osvaldo Cruz identificou esta como uma das restingas mais representativas do Brasil”, lembra Joca.

Hoje, 34 anos depois do início do monitoramento das praias pela Base de Comboios – e também Pirambu/Sergipe e Praia do Forte/Bahia, as três primeiras bases –, o Projeto Tamar é um dos mais bem-sucedidos programas de conservação da biodiversidade no mundo. As cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil ainda estão ameaçadas de extinção, mas suas populações têm crescido continuamente, graças à interação do Projeto com as comunidades costeiras e a sociedade em geral e ao apoio dos governos e da iniciativa privada.

Oásis da Mata Atlântica

Além de Comboios, praticamente todas as primeiras Unidades de Conservação (UCs) criadas no Espírito Santo, até meados da década de 1990, são resultado da militância e dos estudos de Augusto Ruschi. Destaque ainda para o Parque Nacional do Caparaó (a maior UC do Espírito Santo) e Itaúnas, o maior Parque Estadual capixaba.

Pequenos oásis de vegetação nativa em meio a monoculturas de pastagens, eucaliptos, cana-de-açúcar e café, as UCs capixabas padecem de baixíssimo investimento estatal, faltando-lhe mesmo a regularização fundiária, mas, ainda assim, exercem suas nobres funções de produzir água, ar puro, terra fértil e microclima saudável, além de conservar a biodiversidade e as mais incríveis belezas cênicas, entre outros “serviços florestais”.

Vitória, paraíso das feiras agroecológicas

E por último em nossa modesta lista, mas nem por isso menos importante, devemos enaltecer o crescimento da agricultura orgânica e ecológica. Tema de um dos livros, de vários artigos e trabalhos práticos de Ruschi, a agroecologia tem no Espírito Santo um de seus principais celeiros. Prova inconteste é a abundância de feiras especializadas, funcionando em todos os dias da semana. Na Grande Vitória, todo dia é dia de feira orgânica.

 

A funcionária pública federal Ivanise Zielinsky Penna se alegra em reconhecer que consegue manter uma alimentação praticamente 100% orgânica, graças principalmente às feiras, apenas complementando as compras em lojas especializadas e nas oportunidades descobertas dentro da sua rede de amigos (alguém que “descobriu” um produtor de abacaxis orgânicos espalha a notícias pros amigos, outro que encontrou verduras diferentes numa barra específica, também compartilha, e por aí vai …). “Vou à feira duas vezes por semana”, orgulha-se.

Os orgânicos surgiram em sua vida há mais de quinze anos, quando adotou uma alimentação vegetariana e mais natural para se curar de gastrite. Em seguida vieram outros hábitos ecologicamente responsáveis, como a separação do lixo, o uso de sacolas retornáveis ao invés das de plástico, uma pequena horta no apartamento e, mais recentemente, o costume de fazer pequenas limpezas na praia, retirando o lixo que encontra ao seu redor. “Hoje tem mais gente fazendo isso. Não consigo chegar na praia, ver uma embalagem um isopor, e deixar ela lá. Pego e coloco na primeira lixeira que encontro”, conta, divertida.

Terapêutico

Engenheira de segurança do trabalho, Valeria Ramos Soares Pinto conta que teve em Vitória sua melhor experiência com alimentação orgânica. Moradora da capital paulista antes de se mudar para a “Ilha do Mel”, conta que nem na maior metrópole brasileira, conseguia um acesso tão bom aos orgânicos como aqui. “Em São Paulo há feiras, mas é tudo muito distante”, explica. Há um ano residindo na também ilha de Florianópolis, já participa de um movimento, iniciado na universidade federal, voltado a criar um serviço de entrega de cestas orgânicas em pontos estratégicos da cidade.

A iniciativa é muito válida e compensa a ausência de feiras na capital catarinense, mas nada se compara à ida às feiras livres, onde há o contato direto com o produtor, a opção de escolher cada alimento, de tocar, cheirar, descobrir verduras e frutas novas … “A gente encontra os amigos, conhece pessoas, conversa com o agricultor, aprende com ele, troca com ele. Sem contar que é uma experiência prazerosa, terapêutica até!”, narra, nostálgica. 

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