Os defensores do litoral norte capixaba devem redobrar a atenção: o Porto Norte Capixaba pode ser licenciado em março. Esta previsão é divulgada pela empresa Manabi, usando a mídia corporativa capixaba. O porto poderá exterminar várias espécies, entre as quais a tartaruga-de-couro ou gigante (Dermochelys coriácea), que vem sendo protegida há décadas, e desova na região.
Com apelos do tipo “Venha conhecer a Manabi”, colocados em matéria publicitária de meia página, como nesta quinta-feira (26), no jornal A Gazeta, e inserções em colunas dos jornais, como nesta quarta-feira, em A Tribuna, a mineradora prepara a opinião publica para obter a licença previa para construção do Porto Norte Capixaba, em Degredo, Linhares.
Vários segmentos da sociedade civil e especialistas em ambiente que conhecem e pesquisam na região, denunciam que o projeto é altamente prejudicial para o Espírito Santo. Há campanhas na mídia social defendendo que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) não dê a licença pelos danos ambientais que o projeto causará. O processo de licenciamento tramita no órgão há quatro anos.
No entanto, para preparar a opinião publica, a Manabi consegue inserções de informações de seu interesse. Contrata consultores do exterior, com doutorado, para justificar o projeto. Em entrevistas, eles tentam passar a mirabolante ideia de que, com adaptações, o projeto não irá impactar os animais, com as tartarugas.
De parte dos que protegem o meio ambiente a posição contrária ao licenciamento do porto é clara. Lembram que, mesmo depois de décadas de atuação do Projeto Tamar, criado em 1980, apenas 30 fêmeas das tartarugas gigantes desovam atualmente na área, com pouco mais de 90 ninhos. A espécie chegou a ter menos de dez tartarugas em desova, e está criticamente em perigo de extinção. Já das tartarugas cabeçudas ou comum (Caretta caretta) são 300 fêmeas, com uma desova anual da ordem de 1.500 ninhos.
Uma das campanhas contra o porto é tocada pela ONG Voz da Natureza no Facebook. A organização aponta várias das espécies marinhas que correm risco, algumas de extinção, com a construção do Porto Norte Capixaba.
Pelo porto, a Manabi quer movimentar 25 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. O minério sairá do Morro do Pilar, em Minas Gerais. A empresa já recebeu o licenciamento ambiental para a mina. O Porto Norte Capixaba pode operar em 2018, como quer a empresa. Tem previsão de usar uma retroárea de 500 hectares e quebra-mar de 1,4 quilômetro, com ponte de três quilômetros avançando sobre o ambiente marinho.