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Manchas de óleo da Imetame já estão no rio Preto, alertam moradores em protesto

Há risco de contaminar água que abastece Regência. Caso é mais um na série de vazamentos já ocorridos na região

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“Tome lama, tome óleo, tome drama”. “Choramos Óleo”. “Não há exploração petroleira segura”. “Qual é o plano de emergência?”. Essas foram algumas das palavras de ordem expostas na manifestação realizada na tarde desta sexta-feira (18) na comunidade indígena de Areal, em Linhares, norte do Estado, em protesto ao vazamento de óleo ocorrido há três dias na Estação de Lagoa Parda, de propriedade da Imetame Energia

O protesto mobilizou moradores de Areal, Entre Rios, Regência e Povoação, comunidades que podem ser diretamente afetadas pelo vazamento. Desde a identificação do problema, na manhã de terça-feira (15), o óleo já se espalhou pelos alagados da região, atingindo a vegetação, e manchas oleosas já foram visualizadas dentro do leito do rio Preto. 

“Vimos com nossos olhos que tem um óleo passando ali [no rio Preto]. Estamos preocupados. O que pode acontecer com a gente se chegar esse óleo em Regência?”, relata Ana Ayres Burnier, do coletivo de mulheres Vigilantes da Foz do Rio Doce, que organizou o protesto com apoio da Campanha Nem Um Poço a Mais.

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“Quando teve o rompimento da barragem da Samarco [Vale-BHP[, ficamos sendo abastecidos com carro-pipa. Hoje, o abastecimento é 70% do Rio Doce. Com esse óleo, como vai ser? A Imetame vai fazer análise dessa água, vamos ter acesso ao laudo?”, pergunta a ativista. 

Morador de Entre Rios presente no ato, o agricultor Célio Fernandes confirma a visualização do óleo no rio Preto. “E chovendo como está, vai chegar na captação de água da vila [de Regência]”, pontua. Em sua comunidade, o abastecimento ainda é feito por carros-pipa da Samarco desde o rompimento da barragem de Fundão em 2015. Antes, a água das casas era captada em poços artesianos. 

Os manifestantes também questionaram aos empregados da Imetame sobre os prejuízos à saúde decorrentes dos contatos já feitos com a água contaminada. “Areal já estava ilhada, por causa das enchentes e da chuva. Mas muita gente trabalha fora, teve que atravessar a estrada e entrar em contato com o óleo. Estão passando mal”, conta Ana, reverberando relatos de vários presentes. 

“É muito triste ver tanto óleo na água”, lamenta. “E triste também ver o encanamento do oleoduto, todo enferrujado. Exigimos manutenção já!”, entoa, ressaltando um dos dizeres expostos nos cartazes dos manifestantes.

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Na carta de repúdio publicada pelo coletivo, as voluntárias ressaltam “o absoluto descaso e a ganância de empresas que não se preparam adequadamente e não respeitam a vida humana e o meio ambiente, [o que] tem sacrificado profundamente o nosso território”.

E reivindicam “o princípio da precaução que deve nortear o trato de atividade altamente perigosa para o meio ambiente, como é o caso da exploração de petróleo”, medida, sublinham que “deve ser fiscalizado com bastante acuro por parte dos órgãos públicos”.

No caso da Imetame Energia, o licenciamento ambiental é de responsabilidade do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), que acompanha os trabalhos de contenção do óleo.

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Em nota, o órgão informou que sua “equipe de fiscalização continua acompanhando o trabalho de remoção do produto, que está sendo feito por uma empresa especializada contratada pela Imetame, conforme estabelecido por condicionante do licenciamento ambiental”. 

O Iema disse ainda que “a empresa possui plano de emergência aprovado pelo órgão ambiental, que foi acionado assim que o acidente ocorreu. Somente após a limpeza do local é que serão avaliados os impactos ambientais e a dimensão real da área e recursos naturais afetados, para então o Iema emitir as sanções cabíveis”.

Empresas impunes

Pescador em Povoação e atual presidente da associação local, Simião Barbosa lembra que esse não é o primeiro derramamento tóxico ocorrido na região desde o início da exploração de petróleo pela Petrobras, nos idos dos anos 1980. 

Na sua memória, já foram dois derramamentos em Areal, dois em Povoação e um em Regência. “Acontece constantemente e as empresas ficam impunes. Os governantes deveriam ser mais rígidos”, roga. “Contamina a água, contamina tudo: o solo, os serres vivos, a vegetação. A natureza precisa disso tudo, mas eles chegam e acabam com tudo e fica por isso mesmo”, reclama.

Em Povoação, houve vazamento de óleo e de gás. Esse último, ocorrido durante uma chuva com relâmpagos, chegou a produzir chamas que tiveram que ser apagadas pelos próprios moradores. “Tivemos aquele medo! Se tivesse demorado mais, podia ter incendiado tudo, queimado as casas perto. Quando a equipe da Petrobras chegou, já era de manhã”. 

Danos não compensados 

Atingido pelo crime da Samarco/Vale-BHP, Simião ainda sofre os danos físicos e econômicos da lama. Teve problemas graves de saúde, que ainda puderam ser comprovadamente relacionados com o contato com a lama. E a perda de renda em função da contaminação das roças que tinha nas ilhas do Rio Doce e da proibição da pesca. 

“A Samarco até hoje não indenizou minhas roças. Só pagou parte do lucro-cessante. Só recebi três vezes, mesmo já tendo passado seis anos. O cartão [do Auxílio Financeiro Emergencial – AFE] continua, mas ficam ameaçando que vão cortar. Não sei se o mês que vem vou receber. Não pode pescar nem vender o peixe ainda…ela fala que vai cortar o cartão emergencial, porque a água já tá limpa”. 

“Essas empresas grandes que não se importam com a população. Continuam fazendo tudo e faturando. Não ligam pra quem está sendo arrasado aqui. E a gente tem que conviver com isso até o final da vida”, suplica o pescador.


Óleo da Imetame vaza próximo à Reserva de Comboios em Linhares

Comunidades atingidas de Areal e Entrerrios alertam sobre contaminação se espalhar por alagados, até chegar ao mar


https://www.seculodiario.com.br/meio-ambiente/imetame-tem-vazamento-de-oleo-proximo-a-rebio-comboios-em-linhares

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