Pescadores da Barra do Riacho estão há um mês sem pescar. “Fábrica da Suzano reduz vazão do rio Riacho”, denunciam
Parece piada, mas é o relato integral que vem dos pescadores da Barra do Riacho, em Aracruz, norte do Estado. Um dia após o protesto contra o fechamento da boca da barra do rio Riacho, na última quarta-feira (8), a Suzano enviou uma máquina para abrir a foz e dar acesso dos pescadores ao mar. Mas, pasme, a máquina quebrou com apenas um dia de trabalho.
“Ela mandou a máquina na quinta-feira [9] e na sexta [10] já quebrou. Eles fazem do jeito que querem. Sabem que tem que ser de outra maneira, tem que mandar duas máquinas, porque quando a boca da barra começa a dar problema, já tem que vir uma máquina urgente, aproveitando a maré cheia. Se chega a fechar como foi semana passada, uma só não é suficiente, a natureza não dá conta, a água do rio é pouca. Tem que uma cavar, a outra espalhar areia. Eles sabem disso, mas insistem em mandar só uma máquina e ainda por cima velha, que quebrou rápido”, relata o pescador Alexandre Barbosa, membro da Associação e da Colônia de Pesca local e também do Sindicato dos Pescadores e Marisqueiros do Espírito Santo (Sindpesmes).
Foi somente nesta terça-feira (14) que uma outra máquina chegou no local, desta vez enviada pela Prefeitura de Aracruz. “Mas não é suficiente, teria que ter apoio de um trator de esteira para espalhar a areia. Com uma só, o maquinista tem que cavar e escavar, leva o dobro de tempo. Como estamos na maré grande, se demorar em fazer, o próprio mar, a natureza, repõem a areia. Até agora não deu para abrir. Previsão é que só amanhã consiga”, conta, após a realização de outro protesto pelos pescadores.
O resultado de toda essa morosidade da empresa, acentua, é que os pescadores de Barra do Riacho estão há mais de 25 dias parados, sem poder trabalhar, causando prejuízos significativos para as famílias também de todos profissionais diretamente envolvidos na cadeia produtiva da pesca. Os raros dias bons de pesca de inverno, sem vento sul, que ocorreram semana passada, foram perdidos.
“É um prejuízo grande também para todas as pessoas que dependem do peixe para sobreviver. As marisqueiras, que limpam, visceram, fazem filé, tiram cabeça de camarão, descascam camarão. Essa galera também está parada, porque quando pescador para, para tudo”.
O ideal, explica Alexandre, seria fazer um canal de pedra como feito em Jacaraípe, na Serra. “Mas a empresa fala que é muito caro. Então pelo menos deveria ser feita uma manutenção com mais responsabilidade”, aponta.
‘Pedido de ‘socorro’
O ato da semana passada contou com apoio, além do Sindpesmes, também do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e da Defensoria Pública Estadual (DPES), que acompanhou a assembleia dos pescadores realizada para decidir os rumos da luta pela abertura da boca da barra”, relatou, na ocasião, quando, verificaram os manifestantes, três comportas da represa estavam fechadas.
A DPES continua acompanhando o caso buscando uma solução jurídica que resolve com segurança o problema dos pescadores de acesso ao mar. Durante a assembleia, o entendimento foi de que é preciso reivindicar uma revisão das condicionantes do licenciamento ambiental da fábrica, pois, passadas quase duas décadas, já não devem atender às reais necessidades das populações impactadas pelo empreendimento.