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Maratona aquática denuncia poluição na Praia de Camburi

Atividades duraram 24h e participantes viram nuvem negra de explosão na Arcelor

Depois de oito edições e uma paralisação desde a pandemia de Covid-19, a Maratona Aquática pela Despoluição de Camburi voltou a acontecer no último fim de semana em Vitória. As atividades duraram 24 horas, entre sábado e domingo, reunindo centenas de atletas que buscaram chamar a atenção sobre as condições das águas e projetos de educação ambiental que realizaram ações para o público em geral presente nas areias da praia.

Gabriel Lordello

“A maratona foi criada para mostrar às autoridades, empresas e todas que participam de certa forma e não resolvem o problema da Praia de Camburi, tanto na parte de saneamento, que é o esgoto, as águas pluviais, como na parte de poluição atmosféricas do Complexo de Tubarão, e também na parte que envolve o passivo ambiental de Camburi”, relembra Paulo Pedrosa, um dos idealizadores da iniciativa, que chegou a à nona edição após anos de paralisação.

Ela afirma que a poluição da maior e mais conhecida praia da Capital capixaba é visível no dia a dia, até por quem caminha por ali. “Você vê que a água é turva, porque nossa praia depende mais do vento do que da própria corrente de maré. Conforme o vento circula ou se intensifica, a gente tem aquela praia mais barrenta, misturada com matéria orgânica, aí ela fica turva”. Paulo menciona que, durante o evento, nadadores e praticantes de caiaque e stand up paddle realizaram idas conjuntas até a Ilha do Socó, onde havia um forte odor de algas em decomposição, que se desprendem do manguezal e da baía e vem para a praia. 

O organizador destaca que esta foi a edição mais sustentável da maratona, com redução de 90% do uso de descartáveis e realização de lanches compartilhados, evitando o desperdício na alimentação. Também aponta que o número de participantes praticamente dobrou, além de ter havido um maior número de atividades de educação ambiental, com presença de iniciativas ligadas à Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), como o Laboratório de Pesquisas em Política Ambiental e Justiça (Lapaj) e Rede Climatizando, além do Projeto Tamar, Instituto Baleia Jubarte, Projeto Meros do Brasil e Fórum Capixaba de Resíduos Sólidos.

Tiago Melo

Durante o evento, uma surpresa desagradável impressionou não só os participantes mas todos que estavam na praia e em regiões do entorno, quando uma nuvem escura de fumaça subiu no Complexo de Tubarão e gerou uma chuva de resíduos na praia, por conta de uma falha no sistema de um alto-forno da empresa Arcelor Mittal. “Pessoas de roupa branca ficaram admirados com a cor que ficou a camisa deles, evidenciou como a poluição bate na nossa cara”, ressaltou Paulo.

“Foi um incidente flagrante de uma empresa poluindo, o que é péssimo. Foi algo que embasou nossa manifestação, em termos de poluição atmosférica”, disse Wallace Barbosa, o Chuveiro, guia da Inata Sustenatural, que contribuiu com a organização do evento.

“Muitas pessoas entram na água sem saber onde estão nadando. Não sabem analisar a condição de vento, a qualidade da água. Quando bate o vento sul, a qualidade piora muito”, avalia Chuveiro, que classifica a Praia de Camburi como um “coringa” em relação à qualidade de suas águas.

Como o vento predominante é o nordeste, explica ele, na maioria do tempo, a maior parte da poluição que vem da Ponte da Passagem e do canal da Terceira Ponte é levado em direção a Vila Velha, onde se dissipa mais por ter mar aberto, e uma parte fica retida na região da Curva da Jurema, em Vitória. 

Quando vira o vento sul, essa poluição vai parar em Camburi, onde fica mais concentrada pelas correntes circulares e pela condição de ser uma baía mais fechada. “Nesses dias não recomendo nem entrar na água, por ter risco até de contrair doenças como hepatite”, relata o guia de turismo, que tem experiência de navegação no manguezal e nos mares de Vitória e região. Ele ainda lembra que tempos atrás, antes das diversas dragagens feitas em Camburi, era possível surfar no mar, embora os surfistas saíam da água com a pele com cheiro de esgoto e óleo, afirma.

“Quem pode mudar isso são os órgãos públicos e as próprias companhias, que não têm interesse em alterar nada, os órgãos ambientais ainda as apoiam e aí a coisa fica difícil”, lamenta Paulo Pedrosa, em referência ainda à empresa Vale, também poluidora localizada em Tubarão.

Uma das iniciativas que derivaram da realização da 9ª Maratona Aquática foi o lançamento de uma petição online pedindo o retorno das boias de sinalização aquática nas praias de Vitória, que delimitavam o espaço seguro entre embarcações motorizadas e banhistas frequentadores destes locais. 

“Ocorreu que, naturalmente, com o passar do tempo, por estarem expostos às ações da natureza (marés/vento forte/deterioração de suas correntes fixadoras pela maresia), estes equipamentos flutuantes não foram submetidos à manutenção periódica, e também não foram substituídos quando se desconectavam de seus pontos fixos (correntes), perdendo-se ao mar, ou, nas faixas de areias das praias. Com o verificável aumento das práticas esportivas ao mar, o retorno destas sinalizações se torna necessário”, diz o abaixo-assinado.

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