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Marcha pela Vida e Cidadania cobra urgência na recuperação do Rio Formate

Ato no dia 1º de Maio, em Viana, vai denunciar impactos e abandono do poder público

Poluído por esgoto doméstico, resíduos industriais e sofrendo com a supressão da mata ciliar, o Rio Formate mobiliza a “cobrança urgente” da Marcha pela Vida e Cidadania deste ano por ações de recuperação realizadas pelas gestões de Wanderson Bueno (Podemos), em Viana, e de Euclério Sampaio (MDB), em Cariacica, e do governador Renato Casagrande (PSB). Marcado para esta quinta-feira (1º), feriado do Dia do Trabalhador, o ato terá concentração às 8h, na Comunidade Católica São Francisco de Assis, em Marcílio de Noronha II, e seguirá até a Comunidade Católica São Pedro, no Bairro Industrial, em Viana, vizinha ao município de Cariacica.

25ª Marcha pela Vida e Cidadania. Foto: Divulgação

Desde 1999, a Marcha o reúne pastorais, movimentos sociais, sindicatos e centrais sindicais. Neste ano, ocorre em sintonia com a Campanha da Fraternidade 2025, que traz como tema “Fraternidade e Ecologia Integral”. As denúncias sobre o abandono do Rio Formate e outras violações ambientais se intensificaram durante o lançamento da campanha, quando foi lido um manifesto da Arquidiocese de Vitória contra o Programa Estadual de Desenvolvimento e Uso Sustentável das Unidades de Conservação (Peduc), implementado pelo governo Casagrande. O texto também reuniu problemas ambientais graves reportados por áreas pastorais de todo o Estado.

As cobranças foram reforçadas na missa do Dia de Nossa Senhora da Penha, realizada nessa segunda-feira (28) no Convento da Penha, com a presença de representantes de comunidades e pastorais engajadas na luta por justiça ambiental e direitos sociais. “Escolhemos Viana porque estamos às margens do Formate, que sofre com a degradação ao longo de seu percurso até o Rio Marinho. As famílias que vivem nas imediações também enfrentam alagamentos, perdem bens e recebem pouca ou nenhuma assistência das prefeituras”, afirma Kátia Mariano do Nascimento, da coordenação colegiada da pastoral.

Ação durante Festa da Penha, na Prainha, em Vila Velha. Foto: Divulgação

Limite natural entre os municípios da região metropolitana, o rio sofre intensa degradação desde os anos 1980, causada por atividades industriais, falta de solução habitacional para as ocupações irregulares e lançamento de esgoto sem tratamento. A situação é alvo de denúncias recorrentes feitas por entidades como o Conselho Pastoral da Área Cariacica-Viana e a Associação Intermunicipal Ambiental em Defesa do Rio Formate e seus Afluentes (Asiarfa), que apontam para o descaso das gestões municipais e estadual na recuperação do manancial.

Os movimentos cobram a retomada do projeto de revitalização do Formate, apresentado pelo governo estadual em 2015, mas nunca executado, e denunciam a omissão e enfraquecimento das funções fiscalizadoras do Comitê de Bacia do Rio Jucu e do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema). “Tudo o que conseguimos até agora foi por força da luta popular”, afirma o ambientalista João Neto, representante da Asiarfa. Ele aponta o sucateamento do Comitê de Bacia e da Coordenação de Recursos Hídricos do Iema como entraves para a preservação. “Se não fosse a nossa luta, o que já é ruim estaria ainda pior”, avalia.

Em nota, a Aiarfa denuncia que as prefeituras de Viana e Cariacica ignoram ofícios protocolados pela entidade. “Não dialogam conosco e sequer respondem nossas comunicações. Permitem ocupações em áreas de preservação e ainda emitem carnês de IPTU. Em Viana, executivo e legislativo caminham de forma indiferente à causa”, aponta.

Rio Formate Laburp Ufes

‘Lutas incessantes’

Segundo relatório do Laboratório de Estudos Urbano-regionais, das Paisagens e dos Territórios da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), coordenado pelo professor Cláudio Zanotelli, o Formate apresenta assoreamento, erosão e lançamento de esgoto sem tratamento, especialmente nos trechos urbanizados. Todos os pontos visitados pelos pesquisadores apresentavam suscetibilidade à inundação e assoreamento, com erosão das margens e risco de desmoronamento. A mata ciliar foi quase totalmente suprimida e, nos trechos urbanos, predominam construções residenciais, industriais e comerciais que despejam esgoto e lixo no curso d’água, relatam.

Apesar disso, o estudo aponta que o Formate ainda não está completamente desnaturalizado, como outros rios da Grande Vitória. Em alguns trechos a jusante das áreas urbanas, a qualidade da água melhora consideravelmente, sinalizando que o rio tem capacidade de regeneração se houver investimento público e participação social. “O comprometimento da paisagem e a tecnificação de alguns trechos dificultam a criação de vínculos afetivos com o rio. Isso insensibiliza as pessoas e transforma o Formate em um mero canal de esgoto. É preciso reverter esse processo”, recomenda o relatório.

A Ufes destaca ainda o papel da luta comunitária, especialmente da Asiarfa, na defesa do rio. “A condição em que o encontramos se deve não apenas ao clima e ao tempo, mas também às lutas sociais incessantes dos moradores. São essas mobilizações que têm mantido viva a esperança de revitalização”, conclui o documento.

Com 32 quilômetros de extensão, o Formate resiste, destacam representantes de movimentos sociais. Eles reiteram que recuperar o rio é também reconstruir laços de pertencimento, memória e dignidade para as comunidades afetadas.

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