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Medição do pó preto em novembro não parece refletir a realidade da poluição

A orientação dos ventos na Grande Vitória determina, naturalmente, uma variação sazonal na intensidade da poluição do ar ao norte e ao sul da Ponta de Tubarão, onde se localizam as maiores produtoras de minério de ferro e aço do mundo, Vale e ArcelorMittal Tubarão, e também, as maiores responsáveis pela contaminação atmosférica da região metropolitana, que os cidadãos bem conhecem, há meio século, sob o codinome de pó preto, devido à elevada presença de carvão e minério de ferro entre as partículas sedimentáveis que pairam dentro das casas, dos móveis e dos pulmões e sistemas cardiorrespiratórios dos cidadãos.

De agosto a fevereiro, os valores registrados pelas estações de monitoramento do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), na capital, historicamente, crescem, mês a mês. E a partir de março, até julho, caem, em função do vento sul, que leva a poluição para o município da Serra.

Junho, historicamente, costuma ser o mês com os menores valores e os de maiores valores geralmente estão entre novembro e janeiro.

Em novembro de 2017, no entanto, a somatória dos valores das dez estações (40,45 gramas por metro quadrado em trinta dias) só ficou menor que a somatória de abril (17,4 g/m²/30dias), mês em que a ong requereu explicações ao Iema, pois, depois de passar nove meses sem qualquer medição do pó preto, alegando problemas burocráticos na contratação do laboratório responsável pela medição, os valores divulgados caíram abruptamente, sem qualquer explicação lógica.

Em junho, que historicamente é o mês de menores valores, a somatória chegou a 48,3 g/m²/30dias, um pouco mais do que os 40,45 g/m²/30dias registrados em novembro. “Novembro, normalmente, registra o dobro da poluição, em média, do mês de junho”, informa Eraylton Moreschi Junior, presidente da Juntos SOS, que registrou pedido de esclarecimentos ao Iema sobre os dados de novembro. “Em algum lugar está havendo falha, ou na medição, nos equipamentos do laboratório contratado, ou na manipulação dos dados pelo Iema”, inquire.

A ong acompanha de perto o monitoramento do órgão ambiental, desde 2009, tendo gerado gráficos com os dados disponibilizados pelo Iema, onde ficam nítidas as discrepâncias que, até o momento, não foram explicadas. “Estranhamente, depois de 2014, quando o Iema não usou mais os seus laboratórios e técnicos pra fazer as medições, os números caíram muito. E em 2017, houve já três variações inexplicáveis”, diz.

Uma Notícia de Fato foi registrada no Ministério Público Federal em outubro de 2017, referente a uma das anormalidades de 2017, quando, em setembro, a estação da Enseada do Suá registrou valor superior ao permitido pela legislação, não havendo qualquer explicação por parte do Iema do motivo da elevação e medidas de punição aos responsáveis.

No documento, a ong também solicita que o MPF/ES apure outras denúncias registradas no Iema e na Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Vitória (Semmam), como a queda inexplicável dos valores de abril de 2017. Na ocasião o presidente da Juntos, que é conselheiro no Conselho Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Consema), solicitou ao presidente do Conselho, secretário estadual Aladim Cerqueira, que convocasse a presidente do Iema, Andreia Carvalho, para explicar a redução inexplicável, demanda que não foi atendida.

“Estamos analisando se cabe abrir nova denúncia no MPF, sobre os dados de novembro, ou se agregamos à Notícia de Fato registrada em outubro”, informa o ambientalista.

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