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‘Mercado garante autonomia, protagonismo e permanência das famílias no campo’

MPA reinaugura Mercado Popular de Alimentos em São Gabriel da Palha

O Mercado Popular de Alimentos de São Gabriel da Palha foi reinaugurado no noroeste do Espírito Santo. O local, que existe há 14 anos, retorna ao seu endereço original, após um período de funcionamento em local alugado devido a problemas de infraestrutura. A retomada foi possível graças ao esforço coletivo da comunidade, que promoveu rifas, sorteios e eventos culturais para viabilizar as reformas necessárias. O espaço está localizado na Rua João Dias, 89, no Centro, em frente à rodoviária e ao lado da Polícia Militar. O funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, e aos sábados, das 8h às 12h.

O coordenador do mercado e dirigente estadual do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Clóvis Conti, destaca a importância do espaço na promoção da saúde alimentar e na preservação ambiental. “A saúde do ser humano começa pela boca. Quando nos propomos a trabalhar a produção de alimento saudável, compreendemos que o planeta não pode ser considerado um mero depósito de fatores, mas um espaço de reprodução do tripé vegetal, animal e ser humano”, explicou.

Arquivo Pessoal

O mercado opera de maneira similar a uma feira livre permanente. As famílias agricultoras levam seus produtos, estabelecem os preços e recebem diretamente pelo que vendem. A gestão do espaço é realizada pela Associação dos Pequenos Agricultores do Estado do Espírito Santo (Apaggesd) em parceria com o MPA. Para cobrir despesas operacionais, as famílias colaboram com uma taxa. “É uma venda direta da família para o consumidor, com a organização garantindo que o produtor não precise estar presente todos os dias”, detalhou.

Entre os principais desafios enfrentados para manutenção deste espaço, Clóvis apontou a falta de recursos para transporte dos produtos, a carência de assistência técnica e as mudanças climáticas. Segundo ele, muitas famílias têm dificuldade para escoar a produção por não possuírem um veículo adequado. “A logística é um problema que tentamos driblar diariamente. As famílias precisam trazer uma quantidade maior de produtos para viabilizar o transporte, mas faltam condições”, lamentou.

A burocracia para a transição agroecológica é outro entrave. Conti, que já pratica a agroecologia há dez anos, está há dois apenas nos trâmites burocráticos para a certificação oficial. “Precisamos de mais assistência técnica e da desburocratização desse processo”, enfatizou.

Para Leomar Honorato, também coordenador estadual do MPA, um dos desafios é ampliar esse modelo de mercado para outras regiões, especialmente nos centros urbanos. “Não é apenas um espaço de comercialização, mas também um espaço de diálogo entre consumidores, trabalhadores e camponeses. O produto vendido no mercado conta a história do agricultor que o produziu”, pontuou.

Ele também destacou a necessidade de políticas públicas para garantir a continuidade dos mercados populares. “Os movimentos sozinhos não conseguem sustentar essa estrutura. Queremos que o Estado ofereça incentivos e subsídios para que a produção de alimentos seja garantida e acessível a todos”, afirmou. O dirigente do movimento de pequenos agricultores alertou ainda para o aumento do êxodo rural devido à falta de investimentos e apontou a urgência de uma assistência técnica voltada à produção de alimentos, e não apenas de commodities.

‘Resistência e dignidade’

Para Clóvis, o mercado não é apenas um espaço de comercialização, mas também um instrumento de resistência e dignidade para as famílias agricultoras. “O mercado possibilita que os camponeses tenham uma renda extra, mas não se trata apenas de dinheiro. Garante autonomia, protagonismo e a permanência dessas famílias no campo”, considera.

Ele observa que, sem essa alternativa, muitos agricultores seriam forçados a abandonar suas terras e migrar para as cidades, onde enfrentariam condições ainda mais difíceis. Para o camponês, o mercado é também um espaço de fortalecimento da identidade cultural e de valorização do trabalho dos pequenos produtores. “Garantir esse espaço significa garantir a dignidade de quem planta e de quem consome”, completou.

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