Por volta das 7h30, um representante da TNC chegou a pedir a liberação da entrada dos funcionários do Administrativo, mas a resposta foi negativa. “Só vamos deixar entrar depois que a Prefeitura vier aqui”, afirma Kelly de Sena, secretária da Associação de Pescadores, Catadores de Caranguejo, Aquicultores, Moradores e Assemelhados de Campo Grande (Apescama). “Nós não temos portas abertas na prefeitura. Eles [Transpetro] têm. E quando a gente pede melhoria na estrada, a prefeitura diz que isso é com a Transpetro”, relata Kelly.
A pequena comunidade de Campo Grande de Barra Nova, com cerca de 160 famílias, é impactada há décadas pela exploração de petróleo e gás feita pela Petrobras, e vem acumulando graves problemas socioambientais, que afetam a saúde dos habitantes, principalmente as crianças.
A região possui a maior concentração de exploração de petróleo e gás em terra do Espírito Santo, porém, o único retorno que recebem por “abrigarem” a bilionária atividade, são míseros royalties, que alguns moradores recebem, como superficiários, e que ficam em torno de R$ 100 a R$ 200 por ano.
A água, amarelada e com gosto de ferrugem, é impossível ser consumida. Quem tem condições compra água mineral ou, então, remedia com um tratamento caseiro à base de cloro. E os equipamentos públicos municipais de saúde e educação são quase inexistentes.
Por isso, no protesto desta segunda-feira, os moradores exigem: a construção de uma nova escola, já que a as crianças hoje estudam no prédio da unidade de saúde e estão com transferência prevista para uma casa improvisada; contratação de servente para a escola; melhoria do ônibus escolar; construção de uma nova unidade de saúde; contratação de servente e técnico de enfermagem; energia elétrica segura – a comunidade vive mais sem energia do que com energia, como relata a secretária da Apescama.
Emprego
O asfaltamento da estrada que dá acesso à comunidade e a contratação de mão de obra local pela Transpetro também estão na pauta de reivindicações. Os moradores denunciam que as vagas que são abertas dentro da empresa não chegam aos moradores de Campo Grande e os poucos que conseguiram, sofrem perseguição.
Kelly conta que, no último anúncio de vagas, a Transpetro foi na comunidade pedir que os moradores procurassem o Sistema Nacional de Emprego (Sine) de São Mateus para se cadastrarem, mas, chegando lá, foram informados de que iriam passar por uma entrevista, mas que as vagas já haviam sido ocupadas. “É uma falta de respeito da Transpetro. A gente se desloca, 65 km, pra ir no Sine, e chegar lá e passar por isso? Mandaram a gente lá só porque ela tem condicionante pra cumprir”, reclama a líder comunitária.
Lama
Além de todos os problemas estruturais, os constantes vazamentos de óleo e gás agravam ainda mais o quadro de insalubridade ambiental. Apenas os grandes são noticiados e geram algum tipo de ação dos órgãos ambientais, mas os pequenos vazamentos, quase cotidianos, permanecem silenciosos, destruindo a vitalidade dos moradores, do manguezal, da terra e da água.
O rompimento da barragem de rejeitos de minério da Samarco/Vale-BHP também afetou drasticamente a comunidade, desde que a lama chegou. Aos poucos, foi matando o manguezal e exterminando a principal atividade econômica, tradicional, que é a pesca e a cata de caranguejos. A empresa e a sua Fundação Renova, no entanto, ainda não reconheceram a região como impactada pelo crime e não prestou qualquer atendimento aos atingidos.
“Estamos sofrendo há muitos anos e pedindo providência. Já fomos no Ministério Público, na prefeitura, nas empresas, e nada. A gente não aguenta mais”, clama Kelly.