Moradores pararam trator da empresa para proteger área em regeneração no limite com o Parque de Itaúnas
Um mal-estar permanece, desde a manhã desse domingo (26), na microbacia do Córrego da Velha Antonia, no limite com o Parque Estadual e a vila de Itaúnas, em Conceição da Barra, norte do Espírito Santo.
O motivo é a incoerência – e desrespeito, na opinião de moradores da região – expressada pela Suzano Papel e Celulose, ao avançar com um trator sobre uma área em processo de regeneração ambiental há cerca de uma década, apesar de ter assinado apoio formal ao Plano de Restauração Florestal das Bacias dos Rios Itaúnas e São Mateus, voltado a todo o extremo norte e o noroeste capixaba, região com menor cobertura florestal e maior déficit hídrico do Estado.
O barulho do trator foi percebido no início da manhã e mobilizou moradores que se uniram numa barricada para parar a máquina e, ao telefone, pedir ao setor de Meio Ambiente da empresa a interrupção da operação. Vegetação à salvo, partiu-se para obter garantias de que novas ações como essa não voltem a acontecer e para compreender os impactos políticos do ocorrido, no âmbito das entidades envolvidas na iniciativa de restauração florestal em curso.
O Plano de Restauração vem sendo gestado desde 2019 entre duas ONGs ambientais – uma local e outra internacional: a Sociedade Amigos por Itaúnas (Sapi) e a WRI Brasil – e é um desdobramento dos Planos de Recursos Hídricos dos Comitês das Bacias Hidrográficas (CBHs) das duas bacias, elaborados pelo governo do Estado e publicados em 2019.
Vizinho à área em regeneração ameaçada pelo trator, o Coletivo Terra do Bem formou a primeira barreira humana para deter a devastação. “Esse ato significou um desrespeito com a natureza e com a comunidade local por parte da empresa e mais um ato de resistência dos nativos a esta opressão do monocultivo que tem mais de 40 anos de exploração na área”, manifestaram-se, em nota, os integrantes do Coletivo, que participou junto aos demais atores sociais do território, das oficinas de elaboração do Plano.
Agroflorestando o território
A regeneração ambiental, tanto da área do Coletivo como da área vizinha, sob posse da Suzano, foi sendo feita por meio da implementação de sistemas agroflorestais por agricultores familiares, num processo muito semelhante ao protagonizado por agricultores quilombolas em seu território tradicional do Sapê do Norte e que, na área do Coletivo e de algumas retomadas quilombolas próximas, é empreendido sob a denominação do projeto Agroflorestando o Sapê do Norte.