Um jovem de 29 anos, saudável, e que morre, repentinamente, de insuficiência respiratória aguda. O caso do agricultor Henrique Camata, de Marilândia, internado no Hospital Silvio Avidos, de Colatina, na última terça-feira (21), e enterrado no dia seguinte (22), repercute entre os coletivos de apoio à Agroecologia e Agricultura Orgânica, como um caso exemplar de falta de investigação sobre possíveis casos de intoxicação por agrotóxicos.
O jovem agricultor havia aplicado duas bombas de agrotóxicos na lavoura de café de sua propriedade na segunda-feira (20), segundo relatou o tio do rapaz, Beto Partelli. No dia seguinte, na terça-feira (21), ele passou mal já pela manhã, sentindo muita falta de ar. Levado ao Hospital Silvio Avidos, em Colatina, foi internado na CTI e faleceu horas depois, sendo enterrado na quarta-feira (22).
“A família está sofrendo muito. E quanto mais se fala, mais mexe no assunto, mais dor, não queremos falar mais nada”, respondeu o familiar. A causa da morte, registrada no atestado de óbito, segundo Beto, é “insuficiência respiratória”, sem informar o que levou a esse quadro agudo.
“Foi intoxicação?”, inquire a médica Henriqueta Sacramento, uma das militantes da Agroecologia que se posicionou a favor de mais investigações sobre o caso. Nas redes sociais, chegou-se a levantar a hipótese de que a causa seria infecção pelo vírus H1N1. “Não tem nada disso no atestado, só insuficiência respiratória”, confirmou o tio do agricultor.
Henriqueta acredita que, se fosse H1N1, uma série de procedimentos teria sido iniciado pela secretarias de saúde do município e do Estado para confirmar a suspeita e registrar o caso em várias instâncias, inclusive federal.
O agrônomo e professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) de Santa Teresa, Lusinério Prezotti, alerta que alguns grupos químicos de agrotóxicos provocam reações semelhantes às sofridas por Henrique, como os fosforados e os carbamatos, ambos derivados dos chamados “gases de nervos”, utilizados em guerras bélicas e, depois, na produção de inseticidas no Brasil, o país campeão de consumo de agrotóxicos há quase dez anos, quando desbancou os Estados Unidos, tradicional “campeão”.
Os inseticidas desses dois grupos, explica Lusinério, paralisam a respiração e são os maiores causadores de intoxicações agudas e morte no campo. “Causam esse tipo de reação que o rapaz sofreu”, conta. “Deveriam ser retirados do mercado”, protesta.
O caso está sendo estudado pelo professor em sala de aula, que pediu a seus alunos para pesquisarem, na região de Marilândia, se o agrotóxico aplicado por Henrique na véspera de sua internação pertencia a um desses dois grupos. “Tem que ser apurado. Não pode ser mais um na estatística”, enfatizou.