Dois animais encalhados foram encontrados na Serra nessa segunda-feira (13)
O registro de dois encalhes de golfinhos da espécie Sotalia guianensis, encontrados mortos nas praias de Jacaraípe e Balneário de Carapebus, no município da Serra, na última segunda-feira (13), acendeu alertas das entidades que monitoram a vida marinha no litoral capixaba. As ocorrências foram acompanhadas pelo Instituto Brasileiro de Fauna e Flora (IBRAFF) e atendidas pelo Programa de Monitoramento de Praias (PMP), que acionou o Instituto Orca, responsável pela necrópsia dos cetáceos no Estado.
As entidades destacam que os casos refletem uma tendência alarmante de aumento significativo no número de animais marinhos mortos nos últimos anos. Entre 2019 e 2024, o número de golfinhos mortos no litoral capixaba cresceu 105,3%, saltando de 32 casos em 2019 para 82 em 2024. Apenas no início de 2025, já foram registrados dois casos. Entre 2023 e 2024, o aumento foi de 10,69%, uma escalada que preocupa ambientalistas e pesquisadores.
“Os encalhes explodiram nos últimos anos. Precisamos entender as causas para frear o que está causando esse aumento,” destacou João Marcelo Nogueira, diretor executivo do Instituto Orca. Ele informou que as carcaças apresentavam sinais compatíveis com interação com redes de pesca. “Um dos golfinhos estava em condição de frescor, permitindo análises detalhadas, enquanto o outro já se encontrava em avançado estado de decomposição”, relatou.
Após o chamado de banhistas, o diretor-presidente do IBRAFF, Claudiney Rocha, foi até a praia de Jacaraípe, onde foi encontrado o primeiro golfinho, em pior estado de preservação. “Temos acompanhado um aumento significativo na morte de golfinhos e tartarugas. Na semana retrasada, na baía das Tartarugas, em Vitória, identificaram sete tartarugas mortas, vítimas de redes de pesca instaladas em locais proibidos, como recifes, em grande parte por amadores, que deixam as redes abandonadas e acabam vitimando esses animais”, observou.
Grande parte desses episódios, segundo o representante do IBRAFF, são causados pelo lixo descartado de forma inadequada, que acaba sendo levado para os rios e chega ao mar. “Essas práticas comprometem a biodiversidade marinha e o equilíbrio do ecossistema costeiro. Se alguém vir redes em locais proibidos, deve denunciar pelos canais 181 ou 190”, orienta.
Claudiney também ressaltou a necessidade de maior apoio do poder público para campanhas de conscientização ambiental. “Nós fazemos campanha pela necessidade de conservação da natureza e proteção desses animais, levamos animais embalsamados para escolas e praias, além de atuarmos nas redes sociais. As instituições fazem o possível e impossível para salvarem as espécies, mas precisamos de uma atuação maior dos poderes”, ressaltou.
A espécie encontrada em ambas as ocorrências é típica do litoral capixaba e, apesar das marcas de rede, a causa exata da morte só poderá ser identificada após a análise detalhada das necropsias. O diretor do Instituto Orca ressalta que as redes de pesca e a poluição podem não ser os únicos responsáveis pelo aumento das mortes. Ele recordou que o rompimento da barragem de Fundão, da Samarco/Vale-BHP, em 2015, despejou 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração, que alcançaram o Rio Doce, que chegaram ao mar.
“A região da Foz do Rio Doce até o norte do Rio de Janeiro, que nós monitoramos, foi diretamente impactada e ainda sente os efeitos desse destastre. Esses golfinhos são mamíferos que comem os mesmos peixes que nós, então é preciso continuar a investigar o que tem causado essa mortalidade e qual ligação pode ter com a contaminação que afetou o ecossistema marinho”, destacou.
No entanto, as pesquisas realizadas pela Universidade Federal do Espírito Santo, Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), sobre as causas da mortalidade e problemas de saúde em cetáceos e outros grupos de animais marinhos correm o risco de serem descontinuadas com o fim do repasse de recursos pela Fundação Renova, responsável pelas ações de reparação do desastre ambiental, extinta pelo acordo de repactuação, que transferiu as responsabilidades da entidade para o poder público.
Segundo João Marcelo, a última transferência para o financiamento dos estudos deve acontecer em abril deste ano. “É absurdo parar uma pesquisa que pode explicar o que está acontecendo com esses animais e com o ecossistema marinho. Precisamos de análises detalhadas para entender se essas mortes estão relacionadas à contaminação ou outros fatores”, criticou.