Camponeses, comerciantes, moradores urbanos, representantes de igrejas e do poder público – aproximadamente 300 pessoas -, se reuniram em assembleia e discutiram os problemas gerados pela falta de água. A assembleia foi realizada na praça, em São Gabriel da Palha, no final da semana. Novas discussões públicas serão realizadas em outros locais.
A agenda das novas reuniões está sendo fechada pela direção estadual do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) com a comunidade, em diversos municípios. Alguns pontos já foram indicados na reunião de São Gabriel da Palha.
Entre estes pontos, estão a renegociação das dívidas a vencer em 2015, com bônus para quitação ou prorrogação das parcelas, e crédito emergencial subsidiado para produção diversificada. Também foi indicado o controle do uso de irrigação e compras públicas de alimentos.
Ainda entre as propostas, reflorestamento com espécies nativas da mata atlântica que dão retorno econômico rápido, recuperação de nascentes, construção de pequenas barragens de uso coletivo e alteração do modelo produtivo, tendo a agroecologia como proposta.
Foi lembrado por Raul Krauser, da coordenação estadual do MPA, que no ano passado nesse mesmo período do ano o Espírito Santo teve elevados níveis de chuva. “No atual verão, não está chovendo há cerca de 50 dias. As variações climáticas são respostas da natureza à ação humana”, interpreta o dirigente do MPA.
Já Dauri Tamanhão, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Gabriel da Palha e Vila Valério, afirma que não se pode criar um clima de tensão entre o campo e a cidade. Cita que alguns falam que 70% do uso da água é para agricultura. “Não é bem assim. Tem gente na cidade que já está falando que a falta de água é culpa nossa. O momento agora é de juntos acertarmos um rumo e resolvermos essa situação. Procurar um culpado não resolve o problema, não ajuda”, disse Dauri Tamanhão.
Sérgio Conti, da coordenação nacional do MPA, entende que a situação chegou num momento de decisão. “Ou nós paramos agora e priorizamos a vida, ou a destruição será cada vez maior. Sempre denunciamos os modelos de produção do agronegócio, os venenos, os monocultivos, todo esse modelo perverso agrava essa situação que estamos passando agora”, apontou.
“Esse modelo de destruição acarreta fim de nossas vidas e sobretudo da terra. Nós fomos moldados e induzidos a seguir esse modelo e todo o resultado econômico desse modelo escorre pelas mãos dos agricultores. Chega de grandes empresas, precisamos de uma grande mudança de comportamento de nossas vidas no campo e na cidade”, afirmou Conti.
Segundo relata o MPA, na reunião, o prefeito de São Gabriel da Palha, Henrique Vargas (PRP), afirmou que é fundamental o subsídio do governo para preservação do meio ambiente. O prefeito defendeu ainda que este estímulo ajuda os agricultores a manter uma nascente, ou um hectare de mata que seja. Vargas acrescenta que é preciso começar a pensar em reflorestar e também a garantir que isso seja parte da economia da família. O prefeito afirmou ainda que os programas que existem para isso ainda são de difícil acesso.
Nas próximas semanas, o MPA promove assembleias em todo o Estado para debater a falta de chuva e os seus impactos, mas a agenda com a comunidade ainda não está fechada.