O momento da reforma agrária do Brasil não é bom. A pauta parece se afastar cada vez mais da ordem do dia e, enquanto isso, camponeses e lutadores por terra sofrem no campo sem terras, vida digna e segurança. Os números mostram isso: menos de 44 mil famílias foram assentadas desde 2010, o que dá ao governo Dilma a pior marca desde Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
O Brasil tem hoje 1,23 milhão de famílias assentadas, e estima-se que haja, ainda, uma demanda de assentamento para pelo menos mais um milhão. Apesar disso, os dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) mostram que em 2011 foram assentadas 22 mil famílias no País. O órgão ainda não divulgou os dados de 2012, mas confirmou que a meta do ano, que era de 35 mil, foi reduzida para 22 mil.
A atual situação, porém, não deve ficar sem resposta dos movimentos sociais. Desde 5 de março, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), junto com outros setores da Via Campesina, organiza uma acampamento permanente em Brasília, surgido com o início Jornada Nacional de Luta das Mulheres.
O espaço recebeu o nome de Hugo Chávez, em homenagem ao presidente venezuelano morto recentemente, e conta com cerca de 700 acampados.
Além disso, cerca de 1,2 mil manifestantes ocuparam, no último dia 7, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), conseguindo uma reunião com representantes do governo.
Coordenadora de gênero e uma das dirigentes do MST, Kelli Maffort criticou em entrevista recente o atual quadro da reforma agrária no País e reafirmou a centralidade da luta para os camponeses. “Estamos vivendo uma conjuntura de bloqueio da reforma agrária. A luta dos movimentos sociais tem que ser permanente para romper com essa lógica”.
Para a camponesa, o atual bloqueio da pauta é muito bem articulado com outros setores além dos governos, como o agronegócio – principal agente anti-reforma agrária – e o Judiciário, que também contribui para a criminalização dos lutadores do campo.
O movimento considera que o bloqueio é o grande desafio atual para os movimentos oficiais. “Estamos atravessando uma conjuntura em que a reforma agrária está sendo colocada como uma bandeira superada. Isso porque, dada a realidade agrária, de avanço do agronegócio e o processo de industrialização no campo, não haveria mais a necessidade de fazer reforma agrária no país”, afirmou Maffort.