‘Reforma agrária precisa existir. Muita gente precisa de um pedaço de terra para ser feliz’, afirma assentada Alda
“A reforma agrária precisa existir, porque tem muita gente que precisa de um pedaço de terra para ser feliz”. A afirmação da assentada, agricultora familiar e militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Alda Batista da Silva é uma das formas de definir a importância da reforma agrária para a justiça fundiária e social do país, como estabelece o Capítulo III da Constituição Federal de 1988, nos artigos 184 a 191.
Filha de meeiros e ela mesma meeira durante a juventude, Alda irradia felicidade ao descrever o impacto que o Assentamento Zumbi dos Palmares, em São Mateus, norte do Estado, proporcionou na sua vida e de sua família desde que foi implementado, em 1999.
“É uma bênção de Deus. A gente partiu de uma situação financeira que ‘dava para sobreviver’, e hoje cada um tem a sua casa, um carrinho, consegue dar um bom estudo para os nossos filhos. Temos uma escola que vai da creche até o nono ano. Recentemente foi feita outra reforma, a escola está muito linda. É uma bênção na nossa vida. Era um sonho que a gente tinha, de ter nosso pedacinho de terra, poder produzir, alimentar a sociedade. A gente tem uma qualidade de vida muito boa aqui no assentamento”.
O Zumbi está próximo ao Assentamento Vale da Vitória, onde está a sede da Cooperativa do MST, a Coopterra, e onde acontece, neste sábado (22), a 1ª Festa da Colheita do Café da Reforma Agrária. O evento tem uma programação cultura e ato político e visa celebrar o “café com gosto de reforma agrária popular”.
Entre as presenças confirmadas estão lideranças nacionais importantes, como o ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), Paulo Teixeira, e João Pedro Stédile, da coordenação nacional do MST, que participará do debate “A cadeia produtiva do café e sua importância no contexto da reforma agrária e seus desafios atuais”.
A Coopterra já funciona há alguns anos no Vale da Vitória, atendendo a assentamentos próximos, como o Zumbi dos Palmares, da Alda, e outros localizados na chamada Região dos Quilombos, como Córrego Grande, Jorgina, Pratinha, Palmeira, Córrego Grande, Joerana, maioria na Rodovia Miguel Cury Carneiro, que liga São Mateus a Nova Venécia, entre os KMs 53 a 13.
“É uma estrutura gigantesca”, orgulha-se a agricultora. “São vários secadores de café e de pimenta. Já temos o nosso selo, a gente trabalha a consciência de pegar a palha do café e usar como lenha. Tem um trabalho muito lindo!”, descreve.
Se no Rio Grande do Sul o MST tornou-se o maior produtor de arroz orgânico da América Latina, o sonho de Alda e outros assentados é que, no Espírito Santo, o movimento se torne referência nacional na produção de café de qualidade. “Tem lugar de armazenamento, o escritório, e tem crescido em número de sócios e de estrutura. Já temos um volume maravilhoso de produção com tendência de expandir mais”.
Passados mais de vinte anos desde que realizou o sonho de ter seu pedaço de chão, Alda relembra com nitidez o que os movia lá naqueles primórdios. “Quando entramos nessa terra foi para ocupar, resistir e produzir. A sociedade muitas vezes nos vê com muito preconceito, a gente sofre muito preconceito. Acham que somos baderneiros, que invadimos terras. Mas nós somos pessoas comuns, como todos os outros trabalhadores, e queremos ter um pedaço de terra para produzir”.
A cooperativa, que agora passará a celebrar a colheita de um “café com gosto de reforma agrária popular”, torna esse sonho real ainda mais completo. “Ter a terra, o café, e ele ser beneficiado e levado para a mesa da população, podendo chegar ao Brasil inteiro e até para fora, traz muito orgulho para nós. A gente mostra para sociedade que a reforma agrária é uma das coisas mais importantes para alimentar a nação”.